Celebridade e barbárie
Marcos Palmeira: violência sofrida pelo ator é a manifestação súbita da barbárie por parte de sujeitos que há muito sofrem com ela
Conta-se que, na década de 1970, o famigerado assaltante Lúcio Flávio e seu bando invadiram uma churrascaria no Rio de Janeiro e, na hora do assalto, reconheceram um repórter que estava entre os comensais. Este, Luarlindo Ernesto, sorriu meio sem jeito para o bandido, a quem conhecia de reportagens policiais. O bandido imediatamente devolveu a ele os objetos pessoais que haviam sido levados pelos outros assaltantes. Cerca de 30 anos antes, um ladrão pulou o muro de um presídio e caiu dentro da casa de Dorival Caymmi (que era, portanto, vizinha à penitenciária); ao deparar com dona Stella, esposa de Dorival e dona da casa, o ladrão pediu a ela que o deixasse passar.
No começo de 2006, também no Rio de Janeiro, quatro homens armados invadiram a casa do cineasta Zelito Viana, no Cosme Velho, e reconheceram entre as vítimas seu filho, o ator Marcos Palmeira. Entretanto, em vez de devolverem-lhe os pertences, trataram-no com violência redobrada: deram-lhe uma coronhada no rosto e por pouco não o levaram como refém. Alguns anos antes, o craque de futebol Romário também foi assaltado no Rio e, ao ser reconhecido pelos bandidos, não obteve privilégios: foi tratado com rispidez e teve de entregar tudo. E nos últimos anos outros jogadores de futebol famosos tiveram familiares sequestrados, como ocorreu, em 2004, com a mãe de Robinho, que chegou a ficar um mês no cativeiro.
Essa mudança na relação entre os criminosos e suas vítimas famosas parece ter sido acompanhada de uma transformação da relação entre o crime e sua finalidade. De pelo menos uns 1
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