A casa da Ruth
(Foto: Reprodução/Folha de S.Paulo)
A casa de uma mulher pode ser onde ela mora com seus filhos, um quarto numa favela onde dorme, come, abriga pessoas de sua família, afilhados, adotados, não importa. É lugar onde se come ou passa fome conjuntamente. Durante a ditadura militar (1964-1985), algumas casas serviam para reunir mulheres, de todas as cores, posições políticas, ricas ou pobres, mas todas interessadas em voltarmos a ter democracia. Democracia tinha um sentido bem concreto: creches, escolas, delegacias, transporte, água, luz elétrica, tudo faltava; sobretudo, não havia canais de comunicação entre cidadãos e governo. Nós, mulheres, responsáveis pela sobrevivência, criávamos os canais de pressão, porque vocês sabem: mulher, quando precisa, vai em frente!
Ruth era assim, sua casa era um ponto de referência. Mas a casa poderia ser onde morava, no Pacaembu, ou o seu teatro, um galpão ainda. Nós nos encontrávamos em seus fartos almoços, mas também no teatro, ainda embrionário. Quando prostitutas foram perseguidas pela polícia e precisaram ser resgatadas, recorremos a José Gregori (jurista e ministro da Justiça durante o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso) para libertá-las. Elas estavam na rua, trabalhando, não deveriam ter sido presas e, além disso, não teriam quem as defendesse. Era implícito que nós, burguesas, mas sabedoras de nossos direitos, as apoiassem. E foi do teatro que saiu a busca para libertá-las! Procuramos José Gregori para interceder pelas presas. Esse gesto deu início ao largo caminho dos Direitos Humanos, que foi rememorado outro
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