As feministas estão chegando…

As feministas estão chegando…

As feministas estão chegando…

E falando da realidade e do sentimento de inadequação.

As feministas estão chegando, estão chegando as feministas…

 Adaptando os alquimistas de Jorge Ben…

Muitas pessoas são feministas, mas não gostam ou tem medo do nome feminismo. Mal sabem que esse gosto e esse medo tem origem. Eles resultam de um jeito de viver (podemos dizer cultura) que a gente chama de “dominação masculina”.

Nesse jeito de viver no dia a dia, no trabalho, na rua, na igreja, nos lugares que a gente frequenta, sejam restaurantes, bares, praças, as mulheres têm um papel bem claro e se não o cumprem têm sempre que se justificar. Quem nunca se sentiu surpreso por entrar num ônibus dirigido por uma mulher? Quem nunca achou estranho que uma mulher seja a chefe de homens? Que esteja em um cargo de poder político? Ou que esteja sozinha em um praça, em um restaurante? Que viva sozinha e não queria se casar nem ter filhos? Só para citar exemplos bem simples…

Se as mulheres têm que se justificar por estarem fazendo alguma coisa é porque sua presença nos espaços públicos, que são os lugares onde todas as formas de poder são exercidas, é considerada inadequada. Isso deve ser resquício daquela época em que as mulheres eram escondidas em casa pela própria família para que não se metessem onde não eram chamadas. Como se ficar em casa fosse adequado a uma mulher, como se ficar em casa fosse natural e inquestionável.

O feminismo não é nada demais e não precisamos ter medo dele. Ele é só um questionamento dessas verdades absolutas que pesaram sobre as mulheres.

O Nascimento da Vênus – Sandro Botticelli, 1484

Ou seja, o feminismo é uma teoria e uma prática que questiona essa suposta “inadequação” das mulheres. Claro que isso incomoda, porque o que a gente chama de “patriarcado” é uma forma conservadora de sociedade que se sustenta em um tipo de poder em que algumas pessoas tem privilégios (simbólicos, práticos) sobre outras em função de seus lugares de gênero e sexualidade. Tipo ser homem heterossexual é melhor do que ser mulher, lésbica, trans, gay. Mas também em função de seus lugares de classe, tipo ser de classe média ou alta, parecer rico. E de seus lugares de raça, tipo ser branco. E também dos seus lugares estéticos, tipo ser “normal” do ponto de vista da forma física, daquilo que a gente pode chamar de “plasticidade”. A sociedade privilegia os “adequados” porque a sociedade faz acordo com os donos do poder que ditam padrões. Quem não é adequado, ou não se sente adequado, tem que encontrar um lugar para sua própria singularidade e cidadania. Os inadequados têm que lutar por seus direitos, porque eles não virão dos que se servem dos privilégios da adequação.

Daí que o feminismo seja a ético-política que cria esse lugar para as pessoas inadequadas.

Todas as mulheres que hoje em dia estão exercendo seu direito ao trabalho e à existência em lugares onde elas parecem inadequadas, são de algum modo, ou feministas ou herdeiras das práticas feministas, que permitiram que elas estejam hoje ali. Mesmo as que não se reconhecem como feministas devem ao feminismo. O feminismo, contudo, não é uma política de cobrança, ele é uma luta pacífica, cheia de compaixão e generosidade, que deu certo, e ajudou todo mundo. Apesar de tudo o que se diz contra ele, num ato de ingratidão e inveja, o feminismo continua vivo como ético-política e vai continuar nos levando mais longe no melhor sentido do renascimento da política em nossa época.

Se hoje em dia podemos escolher nossos destinos é porque muitas mulheres lutaram por isso antes de nós. Hoje em dia ser feminista é continuar lutando para que a sociedade não regrida de tudo isso que já se alcançou.

Por isso, o problema com o nome feminismo tem que ser superado. Porque, quando penso bem, quando analiso um mínimo da história humana, vejo que se não fossem as feministas, a coisa iria muito mal.

As feministas estão chegando… Elas nunca foram embora, mas agora elas vem em festa, portando os estandartes de uma nova política, um poder que é potência, um poder que é democracia sem medo, nem vergonha, nem disputa e nenhuma necessidade de corresponder a nenhum padrão.

Inadequadas e potentes. O mundo não será mais o mesmo.

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