Arte e imagem sob os olhares da Desconstrução
"Não há fantasmas nos quadros de Van Gogh?”, conduz‑nos Derrida ('Noite estrelada', quadro de Vincent Van Gogh, 1889)
Derrida menciona um evento autobiográfico que iria marcar a abordagem desconstrutiva. Nos alpendres de sua casa, em sua infância na Argélia, o pedreiro colocara um ladrilho invertido ou deslocado. O menino Jacques Derrida demorava‑se em olhar para esse ladrilho. A Desconstrução – comenta o autor em Rastro e arquivo, imagem e arte – “consiste justamente em colocar os ladrilhos do avesso, enfim, a perturbar uma ordem”. Ao perturbar uma estrutura, o pensamento desconstrutivo não visa puramente a uma inversão, a uma desordem, mas aponta para as fraturas e incongruências já inerentes ao que se apresenta de forma harmônica e solidificada. A arte torna‑se assim um âmbito privilegiado para o pensamento desconstrutivo, na medida em que também lhe é peculiar configurar de outros modos uma dada relação de coisas, retirar objetos e materiais de sua funcionalidade cotidiana, instaurar o imprevisto. É mais esse sentido de aproximação do que uma separação estanque ou uma hierarquia entre diferentes domínios – arte e pensamento – o que move os olhares da Desconstrução para a arte.
A Desconstrução não apreende a arte como um objeto dado ou construído pela teoria, tampouco se dirige a obras e artistas com um sistema prévio de conceitos ou com um método interpretativo a ser‑lhes aplicado. Derrida cuida para que a singularidade de cada obra e de cada artista estudado seja preservada em seus textos. As imagens trazidas aos textos não têm por função ilustrar os argumentos do autor, mas atuam em sentido provocativo, retirando o texto sej
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