Para Aracy Amaral, artistas contemporâneos sofrem ‘dificuldade autoral’
A crítica de arte e curadora Aracy Amaral (Foto André Seiti)
Aracy Amaral não vê nada que a “fascine” na arte contemporânea brasileira. Por isso, a crítica e curadora de arte passou dois anos sem organizar novas exposições – foram mais de 50 ao longo de seus 87 anos.
Na última, a 34º edição do Panorama da Arte Brasileira do MAM-SP, trouxe a arte pré-histórica do Brasil em diálogo com artistas contemporâneos, que na opinião de Amaral andam “sem rumo”.
“Uma tendência hoje é a arte recorrer cada vez mais ao vídeo, à fotografia, à apropriação de outras imagens, e não à criatividade. É uma edição de coisas já vistas, seja nos meios de comunicação de massa, na televisão ou no cinema. Sinto uma dificuldade autoral muito forte”, afirma.
Essa “crise”, ela diz, estaria em alguma medida relacionada a um sentimento de perplexidade dos artistas diante do atual cenário político, econômico e social brasileiro, condensado dia após dia em “avalanches informacionais que nos sepultam”.
“Há tantos níveis de informação, tantas fontes diversas e contraditórias que nos rodeiam. Deve ser difícil para um jovem artista saber que caminhos tomar, quais influências adotar. Tanto já foi dito, tanto já foi explorado, que imagino que um jovem fique perdido, a não ser que tenha uma vida interior muito intensa”.
Vem daí seu interesse em voltar os olhos para manifestações artísticas populares, que em sua opinião são capazes de resistir a crises e rupturas sem se tornarem repetitivas.
É o caso, por exemplo, de três ceramistas guaranis paraguaias, cujas obras (são 114 ao todo) serão expostas na Galeria Millan a partir de 2 de setembro na mostra Das mãos e do barro, cuja curadoria é assinada por Amaral.
“Você olha para essas mulheres de 50 e poucos anos e elas têm uma coerência de percurso. Não se sentem mexidas por nenhum baque emocional no entorno delas que as fizeram subitamente mudar de rumo. Essa legitimidade eu acho respeitável.”
A curadora conheceu o trabalho de Julia Isídrez, Ediltrudis Noguera e Carolina Noguera enquanto fazia a curadoria da Trienal do Chile, em 2009. As artistas conservam uma técnica de esculpir o barro do período pré-colonial, transmitida de mãe para filha ao longo de gerações.
“Espero que essa exposição faça as pessoas refletirem sobre o valor do trabalho manual, da mão, e não apenas do cérebro e nem apenas da informação recebida por outras vias que não a tradição”, diz.
Uma das mais importantes críticas de arte do país e professora-titular de História da Arte da FAU-USP, Amaral se debruçou principalmente sobre a obra de Tarsila do Amaral e dos modernistas da Semana de 1922. Além da curadoria de Das mãos e do barro, ela também é a homenageada na Ocupação do Itaú Cultural, que vai até domingo (27).
Das mãos e do barro
Onde: Galeria e Anexo Millan, rua Fradique Coutinho, 1360, São Paulo – SP
Quando: de 02 a 30/09; de seg. a sex., das 10h às 19h e sáb. das 11h às 18h
(2) Comentários
E isso é preocupante no cenário da arte pois o artista perde a sua identidade
É pra se discutir, pois acompanho as exposições e mesmo não sendo um Expert nas artes vejo alguns trabalhos muito bons. Seria assunto de uma boa mesa com curadores, artistas e principalmente galerias, as principais responsáveis nesse momento da arte onde os jovens artistas estão sendo valorizados.