A volta das rotações
Endrigo Chiri Braz
O mundo dá voltas como um disco de vinil. Quem poderia imaginar que em meados de 2010 o LP estaria dando o troco em seu algoz, o compact disc? No duelo analógico versus digital, os discos de vinil estão junto com as revistas e os livros. Não são apenas um formato, muitas vezes transitório, como aconteceu com o VHS e começa a acontecer com o CD. Vinis, revistas e livros são objetos de fetiche, têm valor histórico, guardam memória e duram quase eternamente, se bem conservados. O CD está mais para formato de distribuição do que para objeto de desejo. É uma mídia digital que significava portabilidade e maior número de músicas – o que hoje é o mp3. Com isso, para quem quer ter obras completas e aprecia uma qualidade sonora mais macia e envolvente, o vinil, aos poucos, volta a ser boa opção.
Em setembro de 2001, a Polysom, que fica em Belford Roxo (RJ), nossa única fábrica de vinil e sonho realizado de Nilton Rocha, um apaixonado pelos bolachões, fechava suas portas, depois de oito anos de funcionamento. Rotações por minuto suspensas no Brasil! Mas foi por pouco tempo. Nilton está radiante novamente. Sua fábrica voltou a funcionar. E está sendo reformada e ampliada pelos novos sócios, os donos da gravadora Deckdisc, que assumiram as dívidas, recontrataram a equipe e estão buscando retomar a qualidade dos discos prensados ali, que foi baixando nos tempos de dificuldade.
João Augusto, um dos sócios da Deckdisc e da Polysom, faz questão de deixar claro que a fábrica não é da gravadora, que ela está aberta para todos os interessados em prensar discos de vinil. A ideia é atrair clientes de toda a América Latina, uma vez que o mercado de LPs está aquecendo no mundo todo. Segundo dados do Nielsen SoundScan [sistema de informação que faz todos os levantamentos de vendas de música e vídeo produzidos nos Estados Unidos e Canadá] divulgados à Billboard, em 2009, nos Estados Unidos, foram vendidos 373,9 milhões de CDs, 12,7% a menos do que em 2008. Por outro lado, a venda de mp3 e vinil só aumenta. Foram 65 milhões de discos vendidos via download em 2009, e os LPs passaram de 1,5 milhão de unidades em 2008 para 1,9 milhão no ano seguinte.
“Creio que foi justamente a era digital que causou a volta desse interesse por vinil. O digital é uma radicalização muito grande dos formatos de reprodução de música e algumas pessoas ou sentiram saudades de lidar com o disco físico ou se interessaram por conhecer como eram aqueles old times”, acredita João Augusto, que não se ilude achando que o vinil voltará ao reinado absoluto no mercado de música. “Parece já consolidada a ideia de que a compra e venda de música é e continuará digital; no entanto, há espaço para diversos tipos de mídia e o vinil é um deles”, acrescenta o executivo.
Nesta nova fase da Polysom, a capacidade de produção é de 28 mil LPs e 12 mil compactos por mês, mas esses números podem ser triplicados sem perder qualidade no produto final, garante João Augusto. Isso significa acesso à música de qualidade dos dias de hoje e também da discografia clássica da MPB. Isso porque, além dos lançamentos, algumas gravadoras estão reeditando obras que já estavam escassas no Brasil em formato LP, graças ao interesse de colecionadores do mundo todo. É o caso do disco África Brasil, lançado por Jorge Ben em 1976 e reeditado neste mês pelas prensas da Polysom. “Todos que estão envolvidos no projeto têm o mesmo pensamento: não deve dar dinheiro, mas vai divertir à beça”, brinca João Augusto. Nossos ouvidos agradecem a brincadeira!
(1) Comentário
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Não sei se estou certo, mas o viníl não pode ser copiado de forma pirata, correto? Então seria essa forma a mais prática e econômia contra esse maal..