A vitória da vida sobre a política
Animal Laborans, Homo Faber (2016), de Sebastian Kienzl (Divulgação)
Hannah Arendt julgava que não poderíamos apreender o significado da política moderna e do pensamento que a fundamenta sem percorrer a trilha privilegiada que traz à vista a progressiva implicação da vida biológica no poder político. Logo após publicar As origens do totalitarismo, Arendt dedicou-se, por um lado, à compreensão das condições da política moderna que facilitaram a ascensão do totalitarismo e, por outro, ao exame da persistência dos elementos totalitários após a derrota do nazismo e do stalinismo.
No prefácio de A condição humana, Arendt anuncia que seu propósito no livro não era fornecer respostas teóricas às perplexidades do nosso tempo, mas pensar o que estamos fazendo, a partir de nossas novas experiências e temores mais recentes. Por meio da vitória do animal laborans, do trabalhador, sobre o fabricante de objetos e sobre o homem de ação, o que se avista na era moderna é um novo limiar em que humanidade e animalidade têm suas fronteiras diluídas, e a fruição do mero estar vivo converte-se no horizonte da felicidade e da perfectibilidade. Antes de tudo, em seu diagnóstico da modernidade política, Hannah Arendt se recusa a conceber que a liberdade, a razão de ser da política, possa encontrar um substituto adequado no alívio proporcionado pela segurança contra a violência ou na felicidade compreendida como saciedade.
Trabalho, obra e ação
No primeiro capítulo de A condição humana, Arendt descreve as atividades fundamentais da vita activa – o trabalho, a obra e a ação – que respondem às cond
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