A vida por um fio
Rafael Assef, "Roupa nº5", 2002 (Fotografia: Reprodução)
Viver nunca foi muito fácil, e, em nossos tempos, certamente não é muito diferente. Se os impasses diante da existência não são exclusividade de nossos dias, há, contudo, particularidades que nos exigem um esforço de leitura para assim nos aproximarmos da inegável especificidade que a contemporaneidade impõe sobre nossa vida. A psicanálise nos convoca a estarmos sempre à altura da subjetividade de nosso tempo. É preciso reconhecer que os discursos mudam e, por consequência, os sintomas também.
Hoje em dia, nossa prática se dá num mundo de excessos, onde transbordam a adição e a compulsão. Acompanhamos a banalização e a privatização da violência e um declínio da verdade, escancarado pelo avanço das fake news. Num primeiro momento, pode parecer estranho afirmar que essas são algumas das múltiplas facetas de uma nova presença da morte em nosso tempo. Porém, a morte se dissemina na multiplicação dos restos que permeiam nossa vida. No mundo do consumo compulsivo, onde a obsolescência dos objetos é quase instantânea, aquilo que já não serve para nada desvela sua contraface destrutiva. Não por acaso multiplicam-se os acumuladores – que, em vida, transformam seus lares em verdadeiras sepulturas de restos e de morte, numa versão contemporânea dos faraós e suas pirâmides. O que isso tudo teria a ver com o aumento preocupante do número de suicídios, especialmente entre os adolescentes e jovens?
A psicanálise nos permite operar com as relações absolutamente singulares de cada humano com seu corpo. Sim, seu corpo. Afina
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