A utopia imanente
Gilles Deleuze e Félix Guattari em palestra na França, em 1980 (Foto: Marc Gantier/Archives Nationales)
O pensamento de Gilles Deleuze deu impulso a vários dos termos que circularam na cena filosófica das últimas décadas, tais como diferença, multiplicidade, intensidade, fluxos, virtual, até mesmo simulacro. No entanto, chama a atenção a ausência quase absoluta de qualquer menção ao filósofo na bibliografia sobre a pós-modernidade. De Habermas a Jameson, a omissão é tão generalizada que somos obrigados a reconhecer que, diferentemente de Lyotard – por razões óbvias –, mas também de Foucault ou Derrida, Deleuze foi posto inteiramente à margem do debate sobre o pós-moderno. Longe de mim deplorar essa situação, muito menos corrigi-la. É preciso partir dessa constatação: Deleuze parece ser carta fora do baralho pós-moderno. Isso se deve ao fato de que ele inventou suas peças, outras regras, um novo jogo. Em vez do xadrez (jogo imperial, guerra institucionalizada), o go chinês: mais próximo da guerrilha, sem afrontamento, no limite sem batalha. Seria preciso ler seus conceitos como peças de go espalhadas no tabuleiro contemporâneo, movendo-se de modo intempestivo, na sua alegria própria.
Pois em Deleuze não se ouvirão lamúrias ou profecias sobre o fim do sujeito ou da história, da metafísica ou da filosofia, da totalidade ou das metanarrativas, do social, do político, do real ou mesmo das artes – “Jamais me preocupou a superação da metafísica ou a morte da filosofia, e quanto à renúncia ao Todo, ao Uno, ao sujeito, nunca fiz disso um drama”, escreve em Conversações (1977). Cada um dos conceitos de que a teorização
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