Uma geografia da diferença

Uma geografia da diferença
(Foto: Helene Bamberger/AFP)
  Na base do pensamento de Gilles Deleuze está a ideia de que a filosofia é produção ou, mais propriamente, criação de pensamento, tal como são as outras formas de saber, sejam elas científicas ou não. Mas se o pensamento não é privilégio da filosofia, isto é, se filósofos, cientistas e artistas são, antes de tudo, pensadores, isso não quer dizer que Deleuze assimile os diferentes domínios de pensamento. A distinção das formas de criação que caracterizam os vários saberes foi formulada, de modo sistemático, em O que é a filosofia? (1991), quando ele assinalou o fundamental da diferença constitutiva do saber filosófico: enquanto a ciência cria funções e a arte cria agregados sensíveis, a filosofia cria conceitos. Partindo da posição de que, para Deleuze fazer filosofia é criar conceitos, podemos perguntar: como são criados os conceitos de sua filosofia? Procurando responder a essa questão, cheguei à seguinte conclusão: sua filosofia é um sistema de relações entre conceitos oriundos da própria filosofia, isto é, de filósofos por ele privilegiados em suas leituras, e conceitos suscitados pela relação entre conceitos filosóficos e elementos não conceituais – funções e sensações – provenientes de domínios exteriores à filosofia. A característica mais elementar da relação entre a filosofia de Deleuze e os pensamentos filosóficos, científicos e artísticos é o fato de ela se propor mais como uma geografia do que como uma história, isto é, o fato de ela considerar o pensamento não por intermédio de uma

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