A parrésia freudiana

A parrésia freudiana
(Reprodução)
  Ao preparar esta intervenção sobre psicanálise e política, ocorre­‑me lembrar que, quando se vai ao psicanalista, a última coisa que se deve fazer é preparar o que se vai dizer. Nada mais contrário ao propósito da experiência psicanalítica do que a atitude do sujeito que prepara antecipadamente sua sessão, que se preocupa em determinar de antemão o sentido do que vai dizer. Para operar clinicamente, não necessitamos impor ao paciente o dever de planejar o que vai dizer para alcançar a verdade. Propomos­‑lhe somente que fale, assegurando­‑lhe que a verdade irá se dizer por si mesma. Mas ao examinarmos a estrutura dessa verdade que o surpreende, notamos que ela se expressa ao modo de uma força que ora deforma, ora perturba, ora contraria sua intenção expositiva. E é precisamente por considerar a verdade nos termos de uma relação de forças que a psicanálise requer uma meditação sobre a política. Para resgatar essa articulação entre a psicanálise e a política, parece­‑me particularmente importante retomar uma aliança fundamental entre o pensamento de Nietzsche e a locução de Freud, a partir da leitura da “Introdução teorética sobre a verdade e a mentira no sentido extramoral”. O principal tema que organiza a argumentação de Nietzsche diz respeito ao devaneio filosófico relativo à existência de uma verdade expositiva neutra, extramoral, a ser alcançada, em sua origem, por um saber depurado das relações de força que se determinam como vontade de poder. O alvo de Nietzsche encontra-se filosoficamente condensado

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