A garota das tranças de serpente

A garota das tranças de serpente
  Era uma manhã estranhamente fresca e nublada. Um aroma improvável de éter pairava no ar e deixava um rastro de magia atrás de si. A garota das tranças de serpentes reluzentes vasculhava por todo canto, em busca da chave certeira que abriria aquela porta derradeira. Por dentro ela se sentia como o mais puro e poderoso éter a revestir o mundo com seu cetim. Mas, por fora, cadê a chave para a bendita porta? Não era uma porta qualquer a que ela queria abrir. Era uma que ela apenas antevira em seus sonhos. Muitas senhoras lhe haviam contado das maravilhas desse outro lado descortinado, porém insistiram que a chave não era fácil de se encontrar. Exigiria longa peregrinação. Ainda que a resolução fosse simples – elas disseram – não era fácil não. E esta menina-mulher, daquela manhã etérea em diante, passou a procurar dia e noite pela chave. Ou pela porta. Ou pelos dois. Não sabia bem como ou pelo que procurar. Mas sabia que, cedo ou tarde, haveria de encontrar e então faria sentido. E ela, acompanhada sempre por sua sensibilidade oceânica – a fiel escudeira – caminhou léguas e mais léguas em busca de sua alquimia. Caminhou por entre pedras, asfaltos, cascalho & areia. Atravessou praias & desertos, conversou com a Lua, guiou-se pelos ventos soturnos; encontrou em algumas curvas de conjunção astral figuras generosas que lhe ofereceram pistas. Uma delas gravou-lhe uma concha no coração. Em troca, ela lhe ofereceu asas multicoloridas, pintadas com a amplitude de seu sorriso e prometeu que essas asas lhe levariam a qualquer

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