A constituição do sujeito e a ação política
Hanna Arendt em 1944
Na figura do Rei Lear, Hannah Arendt retrata uma das principais inferências a respeito de questões éticas e morais: conceitos morais não podem subjugar nem superar a supremacia de nossas experiências. “Um senso vivo e duradouro de dever filial é incutido com mais eficácia num filho ou numa filha pela leitura de Rei Lear do que por todos aqueles volumes áridos de ética e divindade que já foram escritos.” Em matéria de ética, representa a supremacia da fidelidade à experiência em detrimento de conceitos e códigos morais. A abordagem ético‑moral de Arendt se dá em dois acontecimentos significativos para a autora: o fenômeno do totalitarismo como um todo e, especificamente, o julgamento de Adolfo Eichmann. A partir da reflexão sobre regimes totalitários em 1951, Arendt expõe o que chama de colapso da tradição moral ocidental, e descreve o vácuo moral causado pelo totalitarismo, de modo a requerer uma nova simbologia ético‑política. Sua discussão acerca do mal radical revela o significado das experiências totalitárias na obliteração da capacidade de compreender o desmantelamento moral de tais eventos, por carência de categorias conceituais compatíveis a esse novo fenômeno político. Contudo, a preocupação tardia de Arendt para com o que denominou de as atividades da vida do espírito, relativas à ação, à ética e à política, toma forma consistente após o julgamento de Eichmann. Após confrontar‑se com a banalidade do mal na incapacidade de pensar de Eichmann, Arendt daria início a um tipo de investigação sobre
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