A borboleta e o sino
Detalhe "Xiao He persegue Han Xin", de Yosa Buson, Nomura Art Museum
I
Noite de verão:
caranguejos lançam bolhas
no meio dos juncos
II
UM LEQUE E UM GUERREIRO
Faz tanto calor
que a espada é posta de lado
e se agita um leque
III
EM CASA
Uma tarde livre
para ouvir junto às urtigas
cantos de cigarras
IV
O guarda do templo
observa as ervas daninhas
à luz da casa cheia
V
A água cristalina
resfria para o pedreiro
um dos seus cinzéis
VI
NO MEU PRIMEIRO ENCONTRO COM O MONGE SEIHAN,
CONVERSAMOS COMO VELHOS AMIGOS
No balde com água
a berinjela e o melão
trocam cumprimentos
VII
O som de uma foice
passando afiada na água:
o arroz é ceifado
A poesia sintética e inesquecível de Yosa Buson (Reprodução)
Buson (Taniguchi) (1716-1783)
Poeta e artista plástico japonês, criou imagens verbais com técnica refinada; é o mais conceitual dos mestres de haiku, capaz de concretizar, em poucas palavras, uma cena inesquecível, com sutileza e objetividade. Buson exerceu influência em modernos poetas de haiku, no Japão e no exterior, como Masaoka Shiki e Nenpuku Sato. Os haikus aqui publicados integrarão uma antologia de poemas de Buson ainda em preparo, a ser publicada sob o título A borboleta e o sino, com organização e tradução de Sérgio Medeiros. Terceto de 17 sílabas (575), o haiku é também chamado no Brasil de haicai, ao contrário do que sucede no Japão e em outros países, inclusive Portugal, onde a referida denominação caiu em desuso. (N.T.)
Sérgio Medeiros é poeta, professor e tradutor
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