Da crueldade necessária

Da crueldade necessária
Detalhe de mural que mostra Édipo matando seu pai, o rei Laio. Egito, período romano (de 30 AEC a 360 EC)
  Prestes a concluir uma belíssima e audaciosa reflexão sobre as origens do mal, a psicanalista Nathalie Zaltzman, pertencente ao chamado Quarto Grupo, relembra, em seu livro L’Esprit du mal , a seguinte passagem do clássico Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski: “Uma outra objeção, decorrente de um material diferente, fragiliza a hipótese da ligação entre o assassinato originário e o mal não superado pela historicização e evolução da cena edípica. Trata-se da temática do infanticídio, figuração do mal que, do lado do infanticida, ocupa no espaço jurídico e público atual um lugar tão tenebroso quanto o do parricídio. Não é indiferente, portanto, o fato de que o tema do parricídio em Os irmãos Karamázov esteja tão estreitamente tecido junto ao do assassinato de crianças, de inocentes”. Ora, quanto a isso, talvez seja possível dizer que estaríamos no campo de uma crueldade em segunda potência, bem ao gosto dostoievskiano, aliás. Crueldade a ser entendida, conforme define a própria Zaltzman em De la Guérison psychanalytique , outro magnífico ensaio, como roupagem erógena da pulsão de morte. Afinal, haveria um crime mais grave do que o infanticídio? Tal modalidade de assassinato também ocupou o interesse de um psicanalista contemporâneo a ela – Serge Leclaire, no caso –, mas de forma tão inusitada quanto oposta à equivalência que Zaltzman fez entre os assassinatos do pai e da criança. O antigo presidente da Sociedade Francesa de Psicanálise faz questão de lembrar que, a título de exemplo e ainda que no c

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