Diamantes entre cascalhos

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Diamantes entre cascalhos
  De tantos anos oculta, eis que se publica a coletânea de poemas de Guimarães Rosa Magma . Embora pontilhada de motivações telúricas e remotos ecos da tradição greco-latina, ainda transpira herança romântica, entrelaçada com experimentos do Simbolismo decadentista: “A tênue poeira flava de seu êxtase”… Poema como “Impaciência” evoca o Romantismo ingênuo. A parte prosaica, narrativa, é a mais forte da coletânea. Por exemplo, o relato amargo de “Reportagem”, cujo gênero se denuncia no título. “Reza brava”, com seu rito mágico, vale como um conto de horror dramático. Rascunho gótico de futura prosa. Falta ao poeta a maestria do verso. Os raros momentos de beleza cristalina jazem na ganga impura. Diamantes entre cascalhos. O leitor encontrará em esboço a determinação temática da flora e da fauna do Centro-Oeste brasileiro, uma das riquezas de Guimarães Rosa. E reminiscências vagas a Mil e uma noites, filosofia oriental, trechos da mitologia grega e dos mitos do sol, da lua e da chuva, frutos da nossa herança indígena. Magma mal prenuncia o grande gênio de Grande sertão: Veredas. Embora se surpreendam nela faíscas da capacidade criadora de Guimarães Rosa, ela guarda o aspecto de obra preparatória. Mas que pode fornecer subsídios para a crítica genética. Não exatamente a hipótese genética desenvolvida por Lucien Goldmann sobre a correlação entre a história da forma romanesca e a história da vida econômica nas sociedades ocidentais. E sim a crítica sugerida por Cecília Almeida Salles em Crítica genética

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