Espírito jovem em uma literatura amadurecida
(Renato Parada/Companhia Das Letras)
Gaúcho residente em São Paulo com vivência no caos fluminense, Paulo Scott, 58, é um autor que transita entre mundos. Tem orgulho da origem proletária de sua família tanto quanto valoriza as mudanças de perspectivas trazidas pela ascensão social de seus pais. E essa transitividade é visível na forma como extrai dessa vivência a verossimilhança de sua literatura, ora convoluta, ora intimista/minimalista, mas sempre embebida no complexo emaranhado de experiências que o construíram como sujeito político: um homem negro, de pele caramelo, como ele mesmo afirma. Uma consciência de classe e raça, construída através de ininterruptos anos de aprendizado com pessoas por quem nutre e nutriu afeto ao longo da vida, o moldou como um intelectual explicitamente politizado – ele se declara um anarquista descrente na tradição colonialista do nosso direito, forçando-se, inclusive, a escrever um livro-ensaio propositivo para um direito antifascista no Brasil.
Separados pela distância entre os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, conversamos por quase duas horas através de uma reunião virtual. Um homem de barba já grisalha que frequentemente pensa sobre a longevidade de suas quase seis décadas de existência, Scott é aberto aos mais desconfortáveis e provocativos estímulos intelectuais das novas gerações.
Ferrenho defensor de pautas trans, negras, indígenas, feministas etc., tal como se espera de artistas mais novos, ele mantém viva sua verve revolucionária calcada na experiência do homem negro como alguém que busca se libertar da subalte
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