Os possíveis e os impossíveis da validação
O filósofo austríaco Karl Popper (Foto: Reprodução/Domínio Público)
O primeiro passo para que uma reflexão sobre psicanálise e ciência seja produtiva é reconhecer um fato relativamente bem conhecido, mas usualmente deixado de lado: falar de ambas – psicanálise e ciência – no singular já atrapalha a organização dos argumentos. A psicanálise, por mais que tenha uma origem bem delimitada e remonte à figura de um autor central enquanto descobridor, fundador e referência principal, não conseguiu evitar suas heresias e dividir-se em diversas linhas e tradições, às quais contam com subdivisões que contêm diferenças clínicas, éticas e epistemológicas. A ciência, por sua vez, também insiste em frustrar os anseios de diversos filósofos da ciência em suas tentativas de definição de um traço único capaz de reunir, de modo inequívoco, tudo aquilo que gostaríamos de chamar de conhecimento científico. A filósofa Isabelle Stengers apresenta a história desses fracassos unicistas em alguns de seus livros, afirmando algo de central importância: a impossibilidade de unicidade do pensamento científico não diminui o valor da ciência; ao contrário, este valor se sustenta sobre essa variabilidade de modos de se fazer e pensar. O quanto melhor explicitarmos as nossas escolhas sobre nossos objetos de estudo, portanto, mais produtiva será a discussão.
Poucas pessoas discordariam de que as diferentes linhas psicanalíticas são competentes em produzir explicações e interpretações daquilo que os psicanalistas encontram em sua prática clínica, explicações essas que também se mostram bastante pertinentes
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