dossiê O pesadelo da normalidade | Introdução
“Juqueri - Antiga Rotunda” (1996), de Ubirajara Ferreira Braga. Guache sobre papel. Coleção Museu de Arte Osório Cesar (Crédito: Gisele Ottoboni/MAOC)
Na virada dos anos 1970 para os anos 1980, o Brasil tinha cerca de 80 mil “vagas” em instituições psiquiátricas. O dado, sugerido por Luiz Cerqueira em Psiquiatria social: problemas brasileiros de saúde mental (Atheneu, 1984) é aproximado, na medida em que não havia um sistema de registro nacional confiável. Cerqueira o obteve mediante consultas pessoais a psiquiatras de todo o país. A expressão “vaga” está destacada porque não seria correto dizer que eram leitos em hospitais psiquiátricos: muitos internos dividiam camas ou mesmo dormiam no chão (oficialmente, era aceita a possibilidade, assim como a remuneração pelo sistema público, dos chamados “leitos-chão”!).
Existiam situações em que os internos viviam espalhados pelas amplas terras das instituições, inclusive em espécies de cavernas. Era o caso da Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, ou da Colônia do Juquery, em São Paulo, nas quais as informações sobre o contingente de internos variavam entre 20 mil e 30 mil pessoas. É impensável visualizar as condições de sobrevivência em uma instituição asilar com 20 mil pessoas institucionalizadas. Uma pesquisa realizada na Colônia Juliano Moreira em 1982 revelou que o tempo médio de permanência dos internos era de 26 anos.
O termo “colônia” era naturalizado. Tratava-se da ideia de constituir uma espécie de civilização exclusiva de loucos que, retirados do convívio, livrariam a sociedade sadia de seus incômodos. Um alienista do Rio de Janeiro falava de “cidades manicômios”. Outro, de um espaço
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