Medicalização e sociedade contemporânea

Medicalização e sociedade contemporânea
“Sem título” (sem data), de Aurora Cursino dos Santos. Óleo sobre papel. Coleção Museu de Arte Osório Cesar (Crédito: Gisele Ottoboni/MAOC)
  Ao final da década de 1990, Cristina Redko estudou os itinerários terapêuticos realizados por pacientes com diagnóstico de esquizofrenia, acompanhados após um primeiro atendimento em um serviço público de emergência em São Paulo. Seu estudo procurou identificar a forma com que diversos campos de conhecimento se mesclavam, se intercalavam e, muitas vezes, se sobrepunham em um processo de organização da experiência do adoecimento, tanto para familiares quanto para o próprio paciente. O campo de conhecimento utilizado por Cristina, chamado na ocasião de psiquiatria cultural, abordava significados atribuídos ao sofrimento mental, como as instituições se organizavam no sentido de fortalecer ou negar esses significados e as práticas sociais relacionadas a esse fenômeno. Ainda que a mobilização de diferentes representações para compreensão, manejo e construção da experiência do adoecimento seja um campo bastante estudado na medicina, em nenhuma área existe uma heterogeneidade tão grande dessas representações quanto na saúde mental. No ultraconhecido e citado História da loucura, de Michel Foucault, a trajetória de modelos explicativos do enlouquecimento é discutida minuciosamente, tornando possível compreender que se trata de um processo contínuo no qual ainda estamos imersos. As formas de expressar o sofrimento mental e as práticas sociais associadas a essa expressão são compreensíveis a partir da realidade histórica, política e econômica. Isso contraria a percepção comum de que existe uma evolução, em que a visão hege

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