Nosso tempo é agora
A líder religiosa Mãe Stella de Oxóssi (Foto: Amanda Oliveira/ Governo da Bahia)
Ao dar título a este artigo, estou a pensar no título de um dos livros formadores do Brasil, Meu tempo é agora (1993), e com isso me reporto ao pensamento-potência de uma grande senhora de poder de minha terra, Mãe Stella de Oxóssi, Odé Kayodê. Peço licença à ancestralidade para falar de um dos capítulos liderados por essa mulher que faz parte de toda uma tradição na cidade de Salvador, a capital da Bahia, a cidade das mulheres. Falo do manifesto “Iansã não é Santa Bárbara” e algumas de suas muitas repercussões na Bahia e no Brasil. O documento foi lançado no 2º Encontro Mundial da Tradição dos Orixás, evento histórico ocorrido em Salvador entre 17 e 23 de julho de 1983, e imortalizado na edição do Jornal da Bahia em 29 de julho do mesmo ano.
A presença de Mãe Stella de Oxóssi na memória política de Salvador deu seguimento a uma longa tradição de mulheres negras, líderes religiosas das tradições afro-brasileiras, que desde Mãe Aninha, que em 1910 fundou o Ilê Axé Opô Afonjá, tem percorrido a cronologia histórica do candomblé no Brasil. Tradição que inclui a luta de lideranças negras como macota Valdina nas jornadas promovidas pelos movimentos negros em Salvador na década de 1980, com destaque para o ano de 1988, quando as elites políticas do país tentaram celebrar o centenário da abolição silenciando esse histórico de luta. É nesse universo que destacamos a potência do manifesto de 1983, resultado de embates longevos com o campo cristão católico mais radical e também com os segmentos evangélicos ne
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