Tornar-se mulher, devir feminista
Simone de Beauvoir com Sylvie Le Bon, em manifestação do Movimento de Libertação das Mulheres (MLF), Paris, 1971 (Foto: Reprodução)
"Não se nasce mulher, tornar-se mulher”, tradução brasileira para o original “On ne naît pas femme, on devient femme”, é a frase célebre com a qual Simone de Beauvoir começa o segundo volume de O segundo sexo (1949) – o primeiro volume havia passado praticamente despercebido –, cujo eco se ouve ainda hoje na política e na teoria feminista. O recurso ao original tem aqui o objetivo de chamar a atenção para a importância do verbo reflexivo “tornar-se”, que supõe, na sua definição, um movimento de transformação, promove uma mudança e faz com que algo ou alguém deixe um estado e passe a outro. Na obra da filósofa Simone de Beauvoir, a atualidade do verbo “tornar-se” só é compreensível em toda a sua profundidade e extensão a partir do seu original – devenir – que carrega nele tanto o sentido do movimento quanto o de futuro, resultado da sinonímia entre verbo e substantivo no idioma francês. Esse entrelaçamento pode ajudar a compreender a importância da herança deixada por Beauvoir não apenas para o presente, mas para o devir, uma das palavras da língua portuguesa com a qual se pode traduzir devenir. O segundo sexo vem reverberando desde sua publicação, e seu cinquentenário foi comemorado como grande feito da filosofia política feminista. A primeira grande contribuição da filósofa foi perceber que a mulher tinha sido reduzida, desde o início da modernidade, ao lugar de outro do homem, excluída do conceito supostamente neutro e universal de humano, sob o qual, de direito, estava abrigado apenas o homem. Por isso, Bea
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