Leia ‘Ao correr da pena’, folhetim recuperado de José de Alencar
(Reprodução/Editora UFSCar)
Publicado em 8 de outubro de 1854 no Correio Mercantil, o texto a seguir integra o volume organizado pelo professor Wilton Marques, para a Editora da UFSCar. Nele, entre outros assuntos, Alencar faz então uma aparente apologia ao progresso tecnológico e ironiza a conduta dos políticos brasileiros
Os últimos dias da semana passada vieram-nos fazer recordar aqueles belos tempos de outrora, em que se contava com a trovoada por volta da tarde, assim como se conta com o sol ao meio-dia e com as chuvas ao anoitecer.
Naquela época o relógio era um traste bem dispensável; ajustava-se o passeio, a entrevista, o encanto para depois da trovoada, e quando acabavam de escorrer de todo as últimas enxurradas da chuva, abriam-se as gelosias verdes das casinhas térreas, e aparecia um ou outro rostinho gracioso que vinha espiar, com o sorriso nos lábios e o rubor nas faces, a passagem habitual de certo estudante que todos os domingos se encontrava na missa.
É verdade que as velhas viam-se obrigadas a rezar mais dois ou três rosários de Padre Nosso por dia; e que os pais de família tinham no seu budget uma verba especialmente consagrada às velas de cera.
Mas em compensação, depois de duas ou três horas, uma viração bonançosa varria o temporal, e dentre as nuvens pardacentas, e dentre o manto rasgado da tempestade começava a desdobrar-se uma tarde fresca e anilada, ainda toda rociada das gotas da chuva, como uma sultana ao sair de seu banho perfumado.
Dava-se algum passeio agradável, respirava-se um ar tênue e puro, e à noite em volta da m
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