Professor da UFSCar encontra oito crônicas inéditas de José de Alencar
O romancista José de Alencar (Arte: Revista CULT)
Publicados entre 1854 e 1855 no jornal Correio Mercantil, textos da juventude do autor prenunciavam o surgimento do ficcionista romântico
O mesmo José de Alencar que, em 1865, saudava os lábios de mel e o hálito de baunilha da índia Iracema, ironizava, em crônica de 1855, a língua tupi, referindo-se a ela como “uma multidão de nomes fanhosos, de frutas, de coquinhos, de bichinhos, de cipós”. O trecho, evidência do amadurecimento do escritor cearense, vem de uma de suas oito crônicas inéditas, descobertas no jornal Correio Mercantil pelo professor de literatura brasileira da UFSCar Wilton Marques.
Junto a um texto crítico de Marques, as oito crônicas serão publicadas no volume Ao correr da pena (crônicas inéditas), que chega em julho às livrarias pela EdUFSCar, editora da Universidade Federal de São Carlos. Para o professor, a descoberta é importante pois ajuda a crítica literária no seu trabalho de reafirmação e revisão do papel histórico-estético de Alencar.
“Não se pode se esquecer que são textos de juventude, o que, por sua vez, pode vir a contribuir para um melhor entendimento desse primeiro momento da carreira literária do autor. De todo modo, quando se faz a leitura de todos os folhetins, percebe-se que o estilo da escrita é permeado por um recorrente toque de lirismo e fantasia, o que, de certa forma, já prenunciava o surgimento do ficcionista romântico”, afirma.
O escritor romântico não era, no entanto, o projeto de pesquisa original do professor. Quando começou a estudar o Correio Mercantil, buscava apenas contextualizar o poema inédito “O grito do Ipiranga”, de Machado de Assis, em relação a outros autores que publicavam no jornal. Marques fez então um levantamento de todos os folhetins de Alencar e notou que alguns textos, localizados no Correio, foram excluídos de seu livro de crônicas completas, publicado pela primeira vez em 1874.
Uma de suas hipóteses para a exclusão, apresentada no ensaio “O enigma dos folhetins”, que acompanha o livro, é de que Alencar preferiu eclipsar essas oito crônicas, escritas na juventude, por serem inconvenientes à imagem que consolidou quando mais velho. Além da ironia com a língua nacional, Marques aponta esse inconveniente em um folhetim de 8 de outubro de 1854, em que Alencar ironizava a conduta dos políticos brasileiros. Uma brincadeira que, para o escritor que veio a ser Ministro da Justiça entre 1868 e 1870, poderia ser mal vista.
A exclusão dos textos é, todavia, um dos poucos elementos que unem as oito crônicas. Variando de assunto entre temas mundanos, como bailes e festas, a vida teatral e política da capital, os folhetins, na opinião de Marques, apresentam a pluralidade temática características desses textos, que eram publicados semanalmente na coluna “Ao correr da pena”.
errata: ao contrário do que foi originalmente informado na matéria, José de Alencar era cearense, e não carioca.
(2) Comentários
Notícia feliz!! Onde serão publicados esses textos? Grata
COntribuição importante para a constituição da obra do autor. Mas a notícia afirma amadurecmento do escrito “carioca”, pelo que sabemos, ele é cearense, embora tenha vivido a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro.