Relacionamento abusivo vivido por Sylvia Plath é revelado em cartas inéditas
A poeta e romancista Sylvia Plath em 1954 (Reprodução)
Pouco antes de se suicidar, a poeta trocou correspondências com a ex-terapeuta denunciando agressões do marido
Nove cartas recém-descobertas da poeta e romancista Sylvia Plath, escritas pouco antes de seu suicídio, trazem à tona a violência sofrida pela autora durante seu casamento com o poeta Ted Hughes. Os escritos inéditos, enviados entre 18 de fevereiro de 1960 e 4 de fevereiro de 1963, destinavam-se à ex-terapeuta de Plath, Ruth Barnhouse, e revelam agressões verbais e físicas por parte do marido.
As cartas registram episódios especialmente dolorosos para a autora. Em uma delas, de 1962, Plath narra a descoberta de que Hughes a traía com sua melhor amiga, a alemã Assia Wevill; em outra, de 1961, ela acusa o então marido de agredi-la fisicamente dois dias antes de sofrer um aborto espontâneo de seu segundo filho – tema que permeia vários de seus poemas, como Parliament Hill Fields. Em uma terceira carta, de outubro de 1962, consta que Hughes desejava que Plath estivesse morta, e que teria afirmado isso verbalmente. Toda a agressão reflete na obra da poeta: naquele mesmo mês, ela praticamente terminou o livro Ariel, publicado em postumamente 1965, e que segundo ela, em uma carta à própria mãe, seria a “obra de sua vida”.
Os textos foram reunidos sete anos após a morte de Plath, em 1963, pela estudiosa Harriet Rosenstein – mas a coletânea só chamou atenção este ano, quando um livreiro de antiquário a leiloou por 695 mil libras. Agora,em outubro deste ano, os documentos serão publicados como livro pela editora Faber (ainda sem previsão de lançamento no Brasil), que reunirá, além de nove cartas trocadas entre Plath e Barnhouse, registros médicos da poeta, outras cartas trocadas entre ela e amigos e notas sobre as sessões de terapia com Barnhouse.
A relação entre Plath e Barnhouse é importante para compreender a obra da autora. Barnhouse tratou Plath em agosto de 1953, quando a poeta tentou suicídio pela primeira vez. As duas desenvolveram laços que iam além do consultório, e que acabaram se transformando em uma forte amizade – tanto que as cartas da coletânea começam em um período em que Plath já morava na Inglaterra com Hughes. Barnhouse acabou inspirando Dr. Nolan, personagem do autobiográfico The Bell Jar, de 1963.
Os textos não são os únicos escritos de Plath que ficaram “escondidos” esse tempo todo: até agora, Hughes afirmava que muitos dos textos da ex-mulher foram perdidos após a sua morte, e que algumas obras, inclusive a que teria sido seu último livro, haviam sido destruídas para proteger os filhos do casal, Nicholas e Frieda.
(1) Comentário
Tão grande em suas obras e tão agredida no dia a dia. Que tristeza!