Biografia de um poema-sonar

Biografia de um poema-sonar

 

O ato-escrita

Se as condições de vida ultrajantes de meus antepassados tivessem sido superadas pelas gerações que os sucederam, talvez eu pudesse ver o passado como a fonte épica de uma saga de civilizadores removidos à força de seus territórios. Se isso é possível, como parte de uma utopia, ao constatar, no entanto, que vivemos em condições precárias, muitas vezes análogas ao período de vigência do regime escravista, não posso senão olhar para o passado e o presente – temendo pelo futuro – para ver neles a condição trágica de uma sociedade que insiste em disfarçar, sob as rendas da “civilidade”, os destroços de sua barbárie. A partir desse fio histórico, pensar o funcionamento da sociedade brasileira é, por extensão, viver os muitos paradoxos que a perpassam. Um deles, sem dúvida, deriva da constatação de que as matrizes culturais africanas, ao lado de outras, constituem um fator decisivo para a articulação do que somos como indivíduos e como coletividade. No entanto, essa constatação não impede outra, de efeito contrário, que relega às margens, quando não rejeita e submete, as mesmas matrizes culturais africanas e seus desdobramentos no território brasileiro. Nesse tour de force apreendo um determinado ato-escrita gerado na encruzilhada entre literatura/história, ato-escrita que não se desvencilha de um olhar ético responsável por nos fazer entender que sem um enfrentamento de nossos gestos mais atrozes – com a intenção de solucionar as injustiças produzidas por eles – nenhum de nossos gestos de gentileza terá um sentido social pleno.

O pensamento-poesia: resistência

Penso a poesia como um fio, dentre outros, que constituem o tecido social. Por isso, ao mesmo tempo em que ela se exprime de maneira autônoma através dos elementos formais que a diferenciam de outras modalidades de discurso, se entrelaça com a sociedade e revela o quanto há de histórico e concreto em seus próprios elementos formais. Sendo assim, por um lado, a resistência pode ser vista como algo inerente à poesia, pois ela se articula no interior dos sistemas de linguagem, propondo representações que transcendem as funções pragmáticas desses sistemas. Nesse caso, o desejo de desmascarar as armadilhas da linguagem se converte em força vital da experiência poética. Por outro lado, a historicidade da poesia (que nos recorda a inevitável historicidade do poeta) pode transformá-la em resposta a contextos específicos. A resistência, nessa condição, vem a ser o prolongamento das expectativas compartilhadas entre o poeta e o grupo com o qual ele se identifica. Em geral, essas expectativas se nutrem de certas tendências ideológicas, cujo rastreamento crítico demonstra, em algumas situações, a frutífera dimensão política da poesia e, lamentavelmente, em outras, a perda de rumos da poesia, quando esta é associada a práticas políticas degradantes. Em face desse jogo, permeado de tensões estéticas e ideológicas, um dos grandes apelos da poesia está nas escolhas a serem feitas pelo poeta. Pessoalmente, aposto no teor utópico da poesia. Vejo-a como resistência quando se faz luta contra o abastardamento e a banalização da linguagem e, por extensão, das formas de pensar e de agir. Pensamento, linguagem e ação são elementos que se entrelaçam mutuamente. Não permitir que essa aliança se esfacele, tendo a poesia como um canal de reflexão e partilha estético-afetiva é um modo, acredito, de reiterarmos nossa densidade de sujeitos históricos que, explicitamente ou não, aspiram a alguma margem de permanência.

Oficina de diálogos I

Minha vivência-e-trabalho com a escrita tem se desdobrado na criação poética através da qual me arrisco na expectativa de semear uma paisagem onde afloram as experiências com a linguagem, a investigação histórica e antropológica e a perquirição metalinguística; e na reflexão teórica que me permite analisar, através de estudos de casos, diferentes aspectos das culturas populares e afrodescendentes a partir de um território específico, as minas gerais. Influências decisivas para minha viagem poética vieram de meus trabalhos com as culturas populares, incluindo os narradores orais, as ritualidades, os compositores da MPB e os textos de ciências sociais. As árvores desse pomar são múltiplas, a saber: as poéticas de Nélson de Jacó, Pedro Oscar, Barandão, José Paulino Clemente, Mário Braz da Luz, Synéas Martins Campello (enfim, uma roda de pessoas do interior das Gerais);  as poéticas do Carnaval, Congado, Jongo, Folias de Reis, ensalmos e de uma míriade de ritos populares; as poéticas de Pixinguinha, Geraldo Pereira e Jorge Benjor; e as leituras críticas dos textos de etnografia,  antropologia, história e sociologia. Se há algo que me atrai no ensaio e no poema é sua condição de incompletude e transitoriedade. Porém, uma vez construídos, esperamos deixar neles sinais de certos objetivos alcançados. Por isso, solicitamos, direta ou indiretamente, que sejam lidos como obras para as quais qualquer mudança terá de considerar as formas acabadas que esses textos exibiram um dia. Em se tratando da escrita textual, essa reivindicação não é nova. Realimentamos com frequência a metáfora do texto como tecido, levando em conta que ambos se constituem como presenças e marcas que reforçam, simultaneamente, as ausências e os vazios. Há muito se sabe que o texto escrito convoca, exatamente por estar escrito, outras formas textuais (a oralidade, a visualidade, etc) que se não deixaram ver/ouvir na sala de visitas do papel. E, no entanto, desde suas ausências essas formas textuais acenam para o leitor, provocando-o, seja para assumir o texto como uma possibilidade de outros textos, seja para conformar-se com o já visto. O tecido também se realiza como presença incompleta, pois os fios visíveis que vestimos como proteção e adorno não se conectam absolutamente, de modo a recobrir o vazio que germina entre eles. Aí, nesse vazio, respira e se entremostra a pele, esse tecido que o olhar busca com desejo, embora, muitas vezes ele se cubra e se afaste sob as indumentárias. A metáfora do texto-tecido nos chama para os limites onde confinam o real objetivo e a subjetivação do real, ou seja, para aquele momento em que a realidade que nos é dada como pronta e resolvida nos instiga a pensá-la como algo nem oferecido, nem pronto, nem resolvido. A presença do texto e do tecido insinua sua temporalidade, retidos que estão em palavras ou fios: por isso, a interpretação que considera o texto e o tecido como formas concluídas assina para eles a sentença capital. Felizmente, aquela ausência – metonímia de outros possíveis textos e tecidos – nutre o desejo pelo texto e o tecido presentes, transformando-os em pontes que nos permitem transitar por diferentes lugares onde o sentido se torna uma realização possível.

Oficina de diálogos II

Muito do que há em minha escrita poética dialoga com a dinâmica do ensaio em antropologia vincado, ambiguamente, pela necessidade de fixar os traços da cultura e compreender a sua inerente capacidade de transformação. Esse tensionamento me impele, em termos de vivênvia poética, a uma defesa permanente da liberdade para a experimentação estética; a uma busca de diálogo com as formulações estéticas de certas tradições, bem como de certas articulações estéticas contemporâneas; a compreensão da poesia como oportunidade para aprofundar o pensamento crítico, a sensibilidade criadora e os laços de afetividade entre as pessoas. Além disso, a informação sobre as poéticas possíveis me estimula a transitar entre os diferentes modos de experimentar a poesia. A vivência desta, por isso, tem sido a vivência do mais que um em mim. Uma tentativa – restrita, com certeza – de estar em casa e no exílio, na natureza e na cultura, simultaneamente ancorado e em viagem. Essa tensão, que o poeta haitiano Jean-Claude Charles chamou de enracinerrance (“un mot qui est proche de la figure de l’oxymore”), descortina um repertório de linguagens em que a solidariedade e o conflito, a economia e o excesso podem ser percebidos não apenas como oposições mas, antes, como modos de fertilização da criação poética.  Por isso, a escrita poética, que entendo também como desdobramento-reinvenção da escrita da história e da antropologia, me aproxima de poetas como Aimé Césaire e Derek Walcott, no Caribe; Wole Soynka e Arlindo Barbeitos, na Nigéria e em Angola, respectivamente,  poetas que afinaram suas vozes poéticas em situações de tensão estética e social. Pode-se dizer que na superação do pacto colonial – fato histórico marcante em suas sociedades de origem – eles perceberam a necessidade de romper as estruturas de expressão impostas pelo colonialismo e, ao mesmo tempo, o desafio de inaugurar novas formulações para a linguagem literária. Suas poéticas representaram o desejo de levar a língua aos limites de suas possibilidades, condição indispensável para que vontades e conteúdos novos pudessem se materializar no texto. Longe de rechaçar a urgência de certas demandas sociais (como a chamada ao engajamento político na luta contra a opressão das metrópoles), essas poéticas aguçaram o significado dessas demandas através de enfrentamentos radicais com a linguagem. É o que se observa em Césaire (Cahier d’un retour au pays natal) e Soynka (Os intérpretes), autores de um discurso que contesta, em nome dos deserdados, as maneiras de ser e pensar que o colonialismo tornou oficiais; e em Walcott, que reconfigura no domínio caribenho os recursos narrativos da epopeia (Omeros). Por sua vez, Barbeitos demonstra em Angola, Angolê, Angolema a viabilidade do diálogo entre rigor estético e interesse pelos dramas sociais. Os enfrentamentos com a linguagem, na perspectiva dos autores citados, e de outros que conheço paulatinamente, dentro e fora da geografia caribenha e africana, me permitem adensar o diálogo com experiências que me são estranhas e familiares, simultaneamente. Foi o que ocorreu na escrita de Ô lapassi & outros ritmos de ouvido (1990) e Caderno de retorno (2003), que derivam, respectivamente, da fatura poética de  Angola, Angolê, Angolema e Cahier d’un retour au pays natal.

 Biografia de um poema-sonar

O Caderno de retorno nasceu da tentativa de compreender as relações que o sujeito movido para fora do seu lugar de origem, por vontade própria ou não, estabelece com a memória desse lugar e com a história a ser escrita numa terra alheia. Nessa situação, os impasses e as contradições se  incorporam à linguagem e se transformam, muitas vezes, em enigmas que nem o sujeito nem a sociedade (de origem ou de acolhida) decifram de maneira satisfatória. No Caderno de retorno a abordagem de temas como os territórios imaginados, a fragmentação dos discursos, a aproximação e o distanciamento entre as culturas constituiu um esforço para superar a opacidade disso que nos habituamos a aceitar como “realidade”. Evidentemente esse esforço permeia outros tantos livros, mas procurei como referência particular o Cahier d’un retour au pays natal, escrito por Aimé Césaire entre 1938-1939. O diálogo com o livro de Césaire, marcado intencionalmente no título, se intensifica através da escavação da memória. Todavia, creio que as peculiaridades de tempo e espaço vividas pelos dois autores relativizam as semelhanças e acentuam o que há de específico nos discursos de cada um. Note-se, por exemplo, que em ambos os livros a teia da memória é desfiada na expectativa de se recuperar a voz de um sujeito subjugado pelas elites sociais. Porém, enquanto no Cahier d’un retour a crítica à assimilação do negro se integra a um projeto que se alimenta nas searas do surrealismo e da negritude, no Caderno de retorno, a fragmentação do discurso e dos conceitos sinaliza para a não inserção da obra em um projeto tão definido. De outra maneira, se no Cahier o retorno sugere a imagem de um país natal, no Caderno o regresso indica que das imagens, mais ou menos reconhecidas, se parte em direção a “um sol em dispersão”. As anotações para o livro começaram a ser organizadas entre 2000 e 2002, período em que residi em Genebra e presenciei o trânsito de pessoas, conhecidas ou não, entre a Suíça e os seus lugares de origem (América do Sul e Central, leste da Europa, países africanos). Inicialmente, me fixei no registro de matérias de jornais, nos folhetos de propaganda e nas conversas de rua  que, de modo direto ou indireto, anunciavam a fascinação e o receio implicados no contato entre sujeitos de procedências tão variadas. O Caderno de retorno seria, em princípio, um exercício do meu desdobramento nessas outras identidades. Porém, é preciso fazer um recorte: antes de me mudar para a Suíça, fiz uma viagem a Pirapora, em abril de 2000. Algumas impressões dessa viagem se misturaram às impressões de Genebra e, pouco a pouco, me dei conta de que, independente do lugar, o outro era eu mesmo, fosse às margens do São Francisco ou às margens do Lac Léman. Em 2003, quando iniciei, de fato, a escrita do livro, percebi que a memória pessoal vista, talvez, como um porto seguro, era ao contrário, um ponto de referência para a errância do sujeito. Nesse sentido, a pesquisa literária, histórica e antropológica que fundamenta o livro-poema procura alinhavar a sociabilidade entre as diferenças (“Pela ausência, amiga, nos tocamos/ oropa frança bahia/ o que são ante a circulação da amizade?”) sem, no entanto, ignorar os obstáculos que em muitas situações a tornam inviável (“tudo se parece ao conflito que empluma/ a franja de  Port-au-Prince/ e a pélvis de Minas”). Foi, portanto, nesse movimento de montagem e desmontagem da memória, de afirmação e relativização de identidades que se rasurou o Caderno de retorno, processo que, pode-se considerar, não é estranho à prática da própria escrita.

Caderno de retorno (fragmentos)

  Pele radar que indexa
um looping
ao atabaque
um anjo
à sua queda
iracema
à sua novela
alvo que incinera um atirador
no teto

  Pele uma varanda com vistas
para o incerto
um grifo
uma cilada
intervalo entre a boca e a palavra
idéia que fazemos
de quem não fala
ao nosso intento

  Para uso irrestrito a pele em desafio
a todo gesto
coleção de selos que o vento
dispersa da janela

[…]

  Pele recuperada é uma ilíada
como se o homem
cevando a si mesmo
sugasse a vida por dentro.

[…]

  É possível amar onde o desembarque de escravos
se multiplicou como as moscas
sobre as bananas?
Qué pretendes cuando olvidas esta memoria
la continuación del masacre?
cette odeur de cheveux au feux?
a fome como sintaxe?

[…]

  Quando desço as ruas do meu bairro quero
semear ileso
nenhuma isca na esquina
nenhum refúgio além do hibisco
odiando calendários.
Um homem vestido de sua cidade conhece
as falésias de si mesmo
como a beleza ganindo entre esgotos.
Antes de pisar na mina, o menino
corria os flamboyants para depois cair no mar.
A notícia desse espanto estilhaça ao meu lado
por que me enviaram
um postal de Luanda?
por que há tempos o litoral do país
aprende outros continentes?

[…]

  Desço as ruas do meu bairro
escorregando na tábua untada com sebo.
O caíque
singra melhor de todos, os maiores rifam a valer.
As mães vão reclamar dos calções puídos
mas o insulto dos carros nos anima à disparada.
o caíque é dos bons
o robinho
o pintado
o gil

  Essa troupe cabeceia quando meço
as ruas de meu bairro. Ao final terei um cobertor
para salvar a anciã na estação de Lausanne?
um caderno para a estudante de Yumuri?
Com o coração traído e a bagagem insana
decolo do meu bairro
para as tenazes do mundo.

[…]

Como imaginar o corpo que há pouco
tangia os bois para a outra margem.
O corpo suspenso numa árvore
incriada e sem nome
grossa o bastante para sovar a carne
que os predadores não erram.

   Há uma hélice vazada em cáries
o sopro que exala nem é tanto de morte.
O pavor talvez de uma palavra
esculpida em escarmentos.
Um rastro no peito antecipa que todas as faces
recebem o mesmo furo
a mesma pressão de corda.

Era noivo o suicida? sentiu orgulho
ao cruzar a vila com sua tropa de monossílabos?
Vejo que se barbeia usando um caco de espelho
a espuma invadindo as orelhas.
É maior o sapato
o paletó a gravata
como são maiores
as coisas emprestadas
mas nunca maiores que o desejo de sermos
o artefato pulsante
iluminado de ímãs
um corpo para o amor.

[…]

Combien de temps resterai-je au bord de la ville
avec mes paroles et mon corps?
Le parnasse contemporain est mort
mais sa bouche mange les autres langues
adieu la carcasse des idées
bizarre séduction
école contraire aux abîmes.
Sortez,
sortez, ne laissez pas votre adresse. Laissez-moi
avec les désastres des jours
et mes cheveux-peur
mon dictionnaire malade
ma résolution de vivre.
Les esprits des vieux organismes pleurent
parce qu’ il n’y a plus d’ interêt pour un langage
qui appartient aux hommes.
La première expérimentation du verbe.
Le rendez-vous de
l’eau
du vent
du feu
sur la peau sans frontière.

[…]

  Nessa geração
que é minha e pouco decifro
a distância entre o descampado e o pátio
é maior. Das escarificações na face
restou o baralho
a flexão de rugas
sob a fuligem.
Cruzar a cidade é moer mais que mover-se
o amigo e sua bagagem
revestida de selos
quedam num depósito
identificados
como não identificados.

  Nessa geração (incomunicável) que decifro
algo se costura quando se desprende
a guitarra elétrica de Ogum
a visita de Zambi
aos legumes nos stands
tudo a olho nu
Nem atinamos com a direção, seguimos
por uma ave
um desfile
uma vítima
por zelo algum
mas tão possíveis que saltamos
da alma e partimos.

  A sua casa, irmão? o seu cavalo, a cicatriz
imaginária de seu pai? onde
os outros que foram sempre os mais lançados
os mais livres
diante das proibições reveladas?
O que é de todos para que nos reconheçamos
vizinhos de um mesmo navio?
ou isso não basta ante o furor que muda
os limites da flora?

  O que foi escrito em mim sobre minha febre
diz parte de mim
não me expõe ao sol, tatua apenas
uma bússola que treme
ao ocidente oriente
dos meus nervos.
Não me resgatem
não me salvem dos canais
não engessem em nome de um nome
o meu rebanho de aspas

[…]

Nenhum dos que amamos fala
em nós se o amor perde as escamas
mas se o ancião recupera
seus bonecos
com eles faz a alegria
do mercado
se uma vespa atravessa
o boi morto ele
corre como um sendero

  se a vida tem uma perna
em nós é que se apóia
a bengala somos
para errar entre o leste e o oeste
a odisséia e o antílope.
Quis romper a manhã dos náufragos trazê-los
ao teatro esperando que me agradecessem
estreito no entanto o meu torso
e é como se erguesse
uma hidra dentro de mim.

  Os que vão ao lado são uma enigmática valise
escutam idiomas antes renegados
eu mesmo aceno
para firmar um pacto em morse.
A nós que gastamos
a roda
a pólvora
a palavra
não perturba se as levarão para a ilha ou o conserto
sua pele nos interessa
não a pele apólice a pele sim que se arrisca ao texto
e refuta a tese a pele em transe como um menino
que entretecesse sua conversa com os desastres como
um ginasta um monjolo prestes a se arremesarem no
solo a pele não para ser suportada mas ancoradouro e
trampolim um exercício de redação em estilo variado
a pele submersa a pele no topo do gesto como trajeto
que o desejo tomasse para sua vertigem como uma
flecha no salão de baile um êxtase a pele tão em tudo
e em todos tão nos confins que ao traduzi-la se per-
ceba um começo em outro começo cici furtando à
morte seu precipício um galo entre os seixos uma
lasca um sol em dispersão desde sempre

Edimilson de Almeida Pereira nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1963. É docente de Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora. Na área de antropologia social publicou, dentre outros, os livros Mundo encaixado: significação da cultura popular (1992) e Do presépio à balança: representações sociais da vida religiosa (1995). Sua obra poética foi reunida nos volumes Zeosório blues (2002), Lugares ares (2003), Casa da palavra (2003) e As coisas arcas (2003).  Seus livros mais recentes, reunidos sob o título de Novos Poemas são: Relva (2015), maginot, o (2015) e Guelras (2016). Autor de uma poética caracterizada por diferentes linguagens e personae, que colocam a poesia em diálogo com a História, a Etnografia e a Antropologia, Edimilson Pereira teve sua obra analisada em diversos textos críticos, dentre os quais o livro Recitação da passagem (Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010), de autoria de Maria José Somerlate, docente de Literatura Brasileira em Iowa.

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