Os disfarces do cruel deus tempo

Os disfarces do cruel deus tempo
A poeta e historiadora Nina Rizzi
  A duração do deserto (2013), de Nina Rizzi, lançado no I Festival Poesia Nova, realizado no Centro Cultural São Paulo, é o segundo título da autora paulista que reside em Fortaleza e que também publicou Tambores pra n’zinga (2012). Em ambos volumes, a lírica narrativa de matiz modernista soma-se a outras referências, como a fotografia, o cinema, a estética do fragmento e a cultura afrobrasileira (“candomblé pra nanã”). Neste segundo livro, o leque é ainda mais plural, incorporando, de maneira bastante pessoal, ecos do cubofuturismo russo e da paisagem expressionista, em poemas construídos em diferentes formas e estruturas, da paródia da linguagem do e-mail à casida – gênero poético praticado nas literaturas árabe e persa, popularizado no ocidente por Federico García Lorca. O multiculturalismo, aliás, é um traço evidente na escrita poética da autora: o acento oriental já aparece em seu primeiro livro, em poemas como “kabuki” (“com a força de um hímem/ os pés apertados da gueixa/ me recolho/ lanço/ bênçãos e espadas”), mesclado às citações africanas, em peças como “jongo ojo-bo” (“uso o vestido, o colar de contas, a rosa, encarnados./ e não apareço. é outubro e eu danço pra mim”) e “flauta pra n’zinga” (“arranco dos meus ovários teus rosários/ contas pra meus afoxés, tambores”). Todas essas referências revelam uma poeta culta, que dialoga com a tradição literária e temas culturais, porém, sem afetação acadêmica ou pretensão erudita: a intertextualidade, na poesia de Nina Rizzi, é um

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