Sertão em moto-perpétuo

Sertão em moto-perpétuo
'O Diabo não há', Xilogravura de Arlindo Daibert (Reprodução)
  “Nunca vi coisa assim! É a coisa mais linda dos últimos tempos. Não sei até onde vai o poder inventivo dele, ultrapassa o limite imaginável. Estou até tola”, confidencia a escritora Clarice Lispector ao colega Fernando Sabino em carta enviada de Washington (EUA), em 11 de dezembro de 1956, sobre um romance que a estava deixando “aflita de tanto gostar”: Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Trata-se de uma resposta à recomendação feita por seu correspondente, cinco meses antes, em carta onde ele revela todo seu entusiasmo com o livro de Rosa. “Adeus, literatura nordestina de cangaço, zélins, gracilianos e bagaceiras: o homem é um monstro para escrever sobre jagunços do interior de Minas e com uma linguagem que nem Gil Vicente, nem ninguém”, lê-se na correspondência entre os dois, compilada em Cartas perto do coração (Record, 2001). Nas menos de dez linhas que compõem sua resposta, a autora de Perto do coração selvagem também tece elogios à linguagem de Rosa e – à revelia de sua fama de soturna – afirma que o livro estaria lhe “dando uma reconciliação com tudo”. “Como tudo vale a pena! A menor tentativa vale a pena!”, exalta. Lançado em maio de 1956, Grande sertão: veredas não apenas impressionou Lispector e Sabino como também levou o crítico Antonio Candido a destacá-lo como “uma das obras mais importantes da literatura brasileira” em resenha crítica publicada, em 6 de outubro do mesmo ano, na primeira edição do Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo. O relato ininterrupto do ex-jag

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