Morte, política e moral
“Mulher branca com muita dor”, de Pinky Wainer (Foto: Reprodução/Estúdio 321)
O conceito psicanalítico “pulsão de morte” promoveu resistências, em parte acomodadas em leituras equivocadas que anulam a radicalidade da posição freudiana quanto ao atravessamento da política no funcionamento psíquico e social. Tais leituras tanto associam a pulsão de morte à uma ideia genérica e moralizante de “mal”, como a associam a atos que resultariam na morte de indivíduos em si. Tal concepção interpreta a dualidade pulsional vida/morte pelo senso comum e leva à defesa quase óbvia da vida em oposição à morte, tal como prezamos pela prevalência do “bem” contra o “mal”. No entanto, ser “pró-vida” como uma moral genérica é uma das afirmações recorrentes que ganham estatuto político quando associadas a questões relacionadas ao aborto e às drogas, por exemplo.
Por vezes, tais leituras traçam explicações simplistas e morais de fenômenos subjetivos, sociais e políticos, postulando que indivíduos, grupos ou nações dominados por esses impulsos psíquicos inconscientes se direcionariam para a morte e a destruição da civilização. Um dos exemplos é a adesão acrítica, como fazem alguns psicanalistas, à discursividade global impregnada pela “guerra ao terror” e à explicação do que chamam de terrorismo como um “excesso de pulsão de morte”. O uso dessa chave psicanalítica sustenta a postura xenofóbica de considerar grupos e nações como “bárbaras” ou “terroristas”, em detrimento de uma análise histórica e política dos conflitos.
Em suma, se assim fosse, acabaríamos po
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