Gary Snyder: 90 anos

Gary Snyder: 90 anos
O poeta Gary Snyder (Foto: Divulgação)

 

A “Notícias de outras ilhas” de hoje é especial: convidamos três tradutores para uma homenagem ao poeta norte-americano Gary Snyder, em seu 90º aniversário. Uma homenagem que, na verdade, é um grande presente aos seus leitores brasileiros: Rodrigo Garcia Lopes apresenta sete poemas de Snyder, Leandro Durazzo traduz a “Sutra de Smokey, o urso” e Luci Collin traduz e introduz “O mundo poroso”. Juntos, poesia e prosa, são textos que permitem passear por alguns dos principais caminhos dessa figura incrível: um dos grandes poetas ligados à geração beat, Snyder é também ensaísta, tradutor, antropólogo, monge zen-budista, ativista ambiental – um gigante.

O poeta nasceu em 8 de maio de 1930 em São Francisco, Califórnia, e passou a infância numa pequena fazenda de produção de leite em Washington. Mudou-se para Portland, Oregon, quando tinha 12 anos. Pouco depois, seus pais se separaram e, da adolescência em diante, é até difícil acompanhar os rastros do poeta pelo mundo: trabalha num navio, depois no Serviço Florestal, casa-se, trabalha na escavação de um sítio arqueológico, escreve uma dissertação sobre mitos, trabalha como lenhador, divorcia-se, trabalha como vigia florestal e outros empregos temporários, dedica-se ao estudo de línguas orientais, conhece Allen Ginsberg e Jack Kerouac, traduz obras do chinês, viaja para o Japão num petroleiro, estuda num monastério, viaja pelo mundo como limpador de convés, muda-se entre os EUA e o Japão diversas vezes, casa-se novamente, passa uma temporada na Índia, separa-se, casa-se novamente, tem um filho, constrói sua própria casa ao pé da montanha em Sierra Nevada, separa-se, leciona, casa-se novamente, tudo isso enquanto atua em movimentos ecológicos, escreve e traduz diversos livros e ganha alguns prêmios, como o Pulitzer de 1975. Enfim, a vida de Snyder, nesses 90 anos, parece ter sido muitas. E foi. Como um exemplo brilhante das buscas que devemos fazer – para dentro de nós e pelo mundo afora.

No Brasil, uma parte da obra de Snyder pode ser lida nos livros Velhos tempos (trad. Ciro Barroso; editora L&PM, 1984) e Re-habitar: ensaios e poemas (trad. Luci Collin; editora Azougue, 2005), além de antologias como Poesia Beat (org. Sérgio Cohn; editora Azougue, 2012). Resta torcer para que, num momento em que são tão necessários um pensamento vivo e uma poesia selvagem como a de Snyder, mais livros seus cheguem às livrarias brasileiras, fazendo circular sua poesia e alguns dos seus principais ensaios, como Turtle Island (1974) e The Practice of the Wild (1990).

Feliz aniversário e vida longa, Gary!

Tarso de Melo (1976) é escritor e advogado, doutor em Filosofia do Direito pela USP. Autor de Rastros (martelo, 2019), entre outros livros.


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