Os limites do carisma: ética, trabalho e necropolítica
A aposta deste artigo é que a atual pandemia, ao esgarçar o tecido social, fatalmente mudará os rumos da política brasileira. Resta saber para onde. Ainda que opaca, uma nova agenda econômica e política está sendo delineada neste exato momento. E, se não estamos diante de uma alteração passageira da cena política nacional, quais seriam suas determinações sociológicas mais profundas? Como se deslocarão as classes, sobretudo os trabalhadores precários mais expostos aos riscos sanitários e aos efeitos economicamente deletérios da pandemia? Afinal, qual é o impacto previsível da atual crise sobre o projeto político bolsonarista?
Em primeiro lugar é necessário lembrar que o governo Bolsonaro representa um projeto necropolítico de poder cujo propósito consiste em mobilizar permanentemente parte da sociedade contra um inimigo interno desumanizado e, portanto, passível de eliminação. Até o advento da Covid-19, o papel desse “outro desumanizado” foi ocupado, com diferentes ênfases e em diferentes contextos, pelos “vagabundos” e “bandidos”, grosseiramente identificados com os militantes dos mais diferentes matizes de esquerda, em especial os sindicalistas e os corruptos ligados por laços inconfessáveis ao establishment político nacional. A conclusão é cristalina: para “salvar a Nação” de seus inimigos internos, é necessário pôr um fim à democracia tal como desenhada pela Constituição de 1988 e à sua pletora de direitos humanos e sociais, instrumentalizados por vagabundos e bandidos.
O projeto em curso de s
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