"Você está acabado como escritor", diz Burroughs a Truman Capote

"Você está acabado como escritor", diz Burroughs a Truman Capote
Polaróides de Truman Capote e William S. Burroughs, por Andy Warhol.

HELDER FERREIRA

O escritor Truman Capote não era exatamente conhecido como um apreciador da literatura beat. Certa vez, em 1959, ao ser questionado pelo apresentador do talk show norte-americano Open End sobre o romance-bíblia do movimento – On The Road -, ele disse que o autor, Jack Kerouac, não escrevia – apenas datilografava.

Também representante da Geração beat, William Burroughs não se esforçava em esconder sua ojeriza por Capote – ao menos, em cartas trocadas com Kerouac e Allen Ginsberg, poeta Beat autor do seminal “Uivo”. Segundo artigo publicado no RealityStudio – site dedicado a Burroughs mantido por acadêmicos, fãs e amigos do escritor – os escritores ressentiam o sucesso de Capote, nos anos 1950, à mesma época em que estes sofriam dificuldades para se consolidarem no mercado editorial. No entanto, seria em uma carta endereçada ao próprio Capote que Burroughs deixaria clara a sua opinião sobre o autor.

Em 23 de julho de 1970, 4 anos após o lançamento em livro de “A Sangue Frio” – romance de não-ficção sobre o assassinato de uma família no interior dos Estados Unidos e o julgamento dos criminosos, publicado originalmente na New Yorker em 1965 –, após já ter declarado em entrevistas seu desagrado com o livro-reportagem, escreveu, em carta aberta, palavras certamente nada elogiosas a Capote.

Esta carta, no entanto, não viria a ser publicada, permanecendo durante anos, após a morte do escritor, no arquivo de seus escritos na Biblioteca Nacional de Nova York até a sua recente compilação na coletânea “Rub Out The Words – The Letters Of William S. Burroughs 1959-1974” (Penguim, 2012), organizada por Bill Morgan, autor de diversos livros sobre a Geração Beat, e ainda sem previsão de lançamento no Brasil.

No escrito, o autor de “Almoço Nu” começa criticando seu alvo por seus então recentes posicionamentos políticos. Segundo ele, Capote haveria defendido, em um comitê senatorial, a prática policial de obter depoimentos por meio de brutalidade e coação.

Em seguida, passa a atacar o trabalho do escritor. “O seu trabalho era, em certos aspectos, promissor – me refiro, particularmente, aos contos”, escreve. “Mas você preferiu vender um talento que não era seu para vender. Você escreveu um livro maçante e ilegível, que poderia ter sido escrito por qualquer um da ‘New Yorker’ –(um periódico reacionário disfarçado e dedicado aos interesses da elite rica americana)”.

Burroughs finaliza a carta aconselhando Capote a aproveitar seu “dinheiro sujo” e, literalmente, amaldiçoando-o ao dizer que ele nunca mais conseguiria escrever uma única frase acima do nível de “A Sangue Frio”. “Como escritor você está acabado. O seu talento foi retirado. Me entendeu? Sabe quem eu sou? Você me conhece, Truman. Você me conheceu por muito tempo. Esta é a minha última visita”.

Você lê a íntegra da carta aqui.

(1) Comentário

  1. Estou atualmente lendo o obrigatório “On the Road” por conta da minha admiriação pelos Beats e posteriormente, os Hippies. Sem sobreaviso encontrar na Internet qualquer coisa sobre personagens tão definitivos dessa época gloriosa é sempre uma emoção diferente.

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