Vidobras dissidentes na música pop brasileira
O músico paraense Jaloo (Foto Junior Franch / Divulgação)
No Brasil da década de 1970, em plena ditadura militar, o cantor Ney Matogrosso inaugurava, embalado pelo rock psicodélico da banda Secos e Molhados, uma performance ambígua que desobedecia às estreitas fronteiras de gênero vigentes na sociedade da época. Mas, muito além das letras das canções ou mesmo da bela voz com falsetes afinadíssimos que a aproximava de padrões vocais femininos, era a construção imagética repleta de androginia e distante de qualquer assexualidade que seduzia multidões com suas maquiagens, figurinos e danças extravagantes.
Já na década seguinte, na cidade de São Paulo, Claudia Wonder, em carreira solo, como atriz, escritora, performer e cantora com os grupos Jardim das Delícias ou com o Truque Sujo, sob forte influência do punk rock e da contracultura dos anos 1960, marcou com seu corpo e sua poesia em cena o espaço da diferença, constituindo-se em “vidobra”: o desdobramento de experiências existenciais em obra que, por sua vez, se converte em novos modos de existência.
Ela foi travesti cantando, atuando no teatro e no cinema, performando no porão do mítico clube Madame Satã; foi a “arrombada, pervertida” de outrora, (re)conhecida nos espaços LGBT e fora deles. Sempre trouxe a marginalidade da vida que levava. Esteve na televisão e, depois de um tempo fora do Brasil, na mídia especializada, e foi até disco diva. Herdamos, por certo, toda a sua potência de vida e de obra, sua vidobra esteticizada a seu modo, mas também aos modos de toda a dissidência da qual fazia parte, que compunha com As
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