Vida e obra de uma feminista negra
A filósofa, escritora e ativista Sueli Carneiro (Foto: Marcus Steinmeyer)
Esta mulher é a minha fala
O meu segredo
Minha língua de poder
E meus mistérios.
Ana Paula Tavares, “A cabeça de Nefertiti”
À narração da trajetória de uma das fundadoras do feminismo negro no Brasil, sobrepõe-se a construção dos próprios movimentos negro e feminista no país. Com uma extensa pesquisa documental, escuta de depoimentos e 160 horas de conversas com Sueli, Bianca Santana alterna as recordações e a formação da filósofa e ativista com as mudanças na sociedade brasileira. A escrita da biografia, assim, coletiviza-se: através de uma fala de si, narra a trajetória de um coletivo.
Em verdadeira “escavação”, como diz o título da primeira seção do livro, a escritora procurou, em arquivos de paróquias, cartórios e depoimentos dos mais velhos, as antepassadas de Sueli. Chegou ao nome de Maria Gaivota, bisavó paterna, possivelmente ex-escravizada nascida em Grão Mogol, Minas Gerais. Da família materna pouco se sabe, mas provavelmente tinha ascendência de ex-escravizados, como Ananias, tia-avó de sua mãe, Eva Camargo.
Entre as narrações dos encontros familiares na infância de Sueli, Bianca remonta aos primeiros contatos políticos da biografada. Foi exposta desde cedo à cultura operária pelo convívio com o pai, José Horácio, ferroviário. Percebia nas atitudes familiares uma defesa do relacionamento intragrupo, que Sueli veria depois como “uma possível tentativa de apagar as marcas do colonizador”. Em 1964 participou de sua primeira passeata, com a “meninada branca” do colégio Jácomo
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