Veto a plano anual do Instituto Vladimir Herzog reflete pensamento totalitário do governo, diz Ivo Herzog
Instituto Vladimir Herzog foi criado em 2009 para celebrar a vida do jornalista assassinado em 1975 (Foto: Acervo Instituto Vladimir Herzog)
Pela primeira vez em dez anos o plano anual do Instituto Vladimir Herzog, que buscava aprovação na Lei de Incentivo à Cultura, foi indeferido pela Secretaria Especial da Cultura do governo federal. “Uma mensagem política importante, que mostra como eles estão tentando nos sufocar”, afirma Ivo Herzog, um dos fundadores da instituição criada em 2009 para celebrar a vida do jornalista assassinado em 1975.
Após ser aprovado pela área técnica da Secretaria de Cultura, o projeto foi rejeitado pela administração, desmentindo declaração do secretário Mário Frias de que o instituto não atendia aos requisitos técnicos para o financiamento, evidência da “arbitrariedade e da absoluta irregularidade da Secretaria de Cultura ao tomar essa decisão”, nas palavras de Giuliano Galli, coordenador da área de Jornalismo e Liberdade de Expressão do Instituto Vladimir Herzog.
Devido à ausência de uma justificativa técnica para o projeto ser indeferido, o instituto recorreu a um mandato de segurança para levar a decisão à Justiça Federal. Para Ivo, a rejeição do plano anual “condiz muito com o pensamento totalitário, neofascista e nazista” do governo atual que, da mesma forma que emprega perseguição política, “faz uma perseguição à ciência, o que matou milhares de pessoas”. Trata-se de uma perseguição “à cultura, aos direitos humanos, às universidades, à ciência, à imprensa e a qualquer outra forma de manifestação do pensamento humano”, complementa Giuliano Galli.
Em suas redes sociais, o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, alegou que o instituto não promove ações culturais, ao que Ivo Herzog reage: “Com certeza já fizemos mais pela cultura do que a somatória de todos os membros daquela família, que destrói a cultura. Não conhecem o significado de cultura e falam qualquer besteira para incitar o discurso de ódio”.
Por meio do plano anual, a instituição viabiliza concertos, peças, exposições, publicação de livros, manutenção de acervos digitais e oficinas de arte e educação em bairros periféricos de São Paulo – projetos voltados ao debate sobre democracia, liberdade de expressão e à história contemporânea do Brasil. Nos últimos anos foram realizados mais de cem projetos públicos.
Todas essas atividades, no entanto, continuarão a ser realizadas pelo instituto, que tem aproximadamente 10% de seu orçamento advindo da Lei de Incentivo à Cultura. Livros e pesquisas para acervos sobre a história do Brasil serão os projetos mais afetados, diz Herzog. “Nossa família já está nessa luta há 45 anos. Já derrubamos uma ditadura e esse governo brutal e violento vai cair também. O instituto se recupera, mas a centena de milhares de pessoas que o governo matou negando a ciência, não”, afirma.