Verônica Bolina e o transfeminicídio no Brasil
Bandeira trans; direito a registro civil sem necessidade de cirurgia foi concedido nesta quinta (1)
Há imagens que ficam tatuadas em nossas retinas. Esfregamos os olhos para fazê-las desaparecer, mas elas teimam em nos acompanhar. Quando já não habitam mais a retina, migraram para as nossas almas. Depois que vi a foto de Verônica Bolina, fui invadida por uma sensação de tristeza sem nome. Uma mulher negra, com seios expostos, o rosto completamente deformado por agressões de policiais, cabelos cortados, estirada no chão. Essa cena aconteceu dentro de uma delegacia, portanto, eram os operadores das normas legais os responsáveis pelo desejo, encarnado em cada hematoma no corpo de Verônica, de matá-la.
A violência contra ela aconteceu no mesmo período em que foi publicado o relatório sobre as condições das pessoas trans (travestis, transexuais, transgêneras) nas penitenciárias do Rio de Janeiro. A situação de violência e desrespeito à identidade de gênero é generalizada. Com isso, a sociedade perde vidas e deixa de aprender sobre relações de gênero, o lugar reservado ao feminino, e sobre como opera a exigência de uma suposta compatibilidade entre genitália e gênero de uma pessoa, fruto de um determinismo biológico que se manifesta de diversas formas.
O corpo de Verônica é um arquivo vivo. É a própria história do drama das pessoas negras, pobres e trans no Brasil. As marcas de raça, gênero e classe social não deixam dúvida que o projeto político dos representantes do Estado era sua eliminação, transformando-a em um tipo exemplar das vidas matáveis (nos termos do Giorgio Agamben) no contexto brasileiro. Sabemos que a vid
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