Velhinho maluquinho

Velhinho maluquinho

Meninas, Velazquez

Renata Cardarelli

Um “velhinho maluquinho” que, aos 78 anos, “ainda está querendo saber o que vai ser quando crescer”. E pelo jeito Ziraldo tem o dom de se reinventar. Dono de uma produção que passeia pela charge, caricatura, literatura, jornalismo e, agora, pintura; é mineiro de Caratinga e advogado por formação. Da junção de Zizinha, nome da mãe, e Geraldo, nome do pai, nasceu Ziraldo, artista que há algumas décadas contribui com a boa produção artística nacional. Com O Pasquim (1964-1968), que ajudou a fundar, peitou a ditadura militar brasileira. Com O Menino Maluquinho (1980), marcou uma época na literatura infantil brasileira e se consagrou como autor do gênero. Zeróis: Ziraldo na Tela Grande, a mais recente exposição do artista, reúne 44 telas que apresentam os Zeróis, famosos cartuns da década de 1960 transfigurados em pinturas que são releituras de artistas como Picasso, Velázquez, Goya, Dalí e Warhol. Como o pintor explicou à CULT, “minha visão crítica do comportamento humano fica bastante visível nessas paródias”.

CULT – Por que razão o senhor resolveu intervir em quadros famosos de artistas como Picasso, Velázquez, Goya e Dalí?
Ziraldo –
Eu tive longa convivência com a arte desses e de alguns pintores americanos que sempre me encantaram: Norman Rockwell, Grant Wood, Edward Hopper. Minha visão crítica do comportamento humano fica bastante visível nessas paródias. Usei também duas famosas fotos americanas para parodiar os significados dos fatos narrados: o içamento da bandeira em Iwo Jima e o beijo do fim da guerra do marinheiro e da enfermeira em Times Square.

CULT – O senhor considera que obras de artistas norte-americanos do movimento Pop Art, como Andy Warhol e Roy Lichtenstein, se aproximam da sua produção? Por quê?
Ziraldo –
Não precisa me chamar de senhor, eu ainda estou querendo saber o que vou ser quando crescer… Essa coleção de quadros que fiz tem tudo a ver com a produção desses dois artistas, mas em medidas diferentes. A grande diferença está em que, no caso do Warhol, eu não trabalho com o imprevisto e, no caso do Lichtenstein, ele não trabalha com a narrativa.

CULT – Depois de tantos anos de carreira, premiações e reconhecimento, o que o move para continuar fazendo seu trabalho?
Ziraldo –
Acho que, se eu parar de fazer as coisas que faço, a vida vai perder inteiramente o sentido pra mim. Sou o que faço. A aposentadoria é o maior inimigo do homem.

CULT – O que há de Menino Maluquinho no senhor?
Ziraldo –
Agora, um velhinho maluquinho.

Zeróis: Ziraldo na Tela Grande

Onde: CCBB – Rio de Janeiro, rua Primeiro de Março, 66
Quando: até19/09, terça a domingo, das 10h às 21h
Quanto: entrada franca

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