Usos e desusos do conceito de gênero
Simone de Beauvoir autografa livros em sua passagem pelo Brasil, em 1960 (Foto: Arquivo Nacional)
A história dos conceitos é formada a partir de debates, exigências políticas, disputas e discussões. O conceito de gênero tem sido, desde a segunda metade do século 20, objeto dessas idas e vindas, fluxos e refluxos, em campos como a Antropologia, as Ciências Sociais e a Filosofia. O gênero como categoria útil de análise, como no título da norte-americana Joan Scott, foi feito e desfeito a partir de questionamentos sobre até que ponto tal conceito foi e ainda é um importante operador para a crítica de situações sociais nas quais as mulheres (mas não apenas os corpos físicos fêmeos) ainda são subjugadas. Na história das teorias sociais sobre diferenças sexuais, a distinção sexo/gênero possibilitou interrogar a ideia de diferença sexual como princípio universal de diferença e de classificação.
A partir da dessemelhança sexo/gênero, delineiam-se os argumentos para pensar a diferença sexual como produto da cultura e não como essência da modelação dos papéis sexuais. Nesta abordagem, indivíduos nascidos e classificados como homens e mulheres seriam socializados para agir, pensar e sentir segundo roteiros culturalmente construídos em posições vinculadas ao sexo anátomo-biológico. São perspectivas que trabalham com base na construção cultural dos papéis de gênero e tendem a conceber as relações entre os sexos a partir de pressupostos de costume e estabilidade social. Em geral, tendem também a descartar a possibilidade de mudança nesse arranjo social.
A década de 1970 foi marcada pela progressiva incorporaçã
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »