Universidade de Illinois pretende digitalizar mais de seis mil cartas de Proust
O escritor Marcel Proust em 1900, aos 29 anos (Reprodução)
Um projeto da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, pretende digitalizar e publicar online toda a correspondência do escritor francês Marcel Proust (1871 – 1922). O objetivo, a curto prazo, é disponibilizar cerca de seis mil cartas – e, no futuro, abrigar todos os textos escritos e recebidos pelo autor de Em busca do tempo perdido (1913), número que pode chegar a 20 mil documentos.
A iniciativa conta com o auxílio da Universidade de Grenoble Alps (na França), do Institute of Texts and Modern Manuscripts (EUA) e da Livraria Nacional Francesa. Junto da Universidade de Illinois, também devem transcrever alguns conteúdos, já que muitos dos originais são pouco compreensíveis, seja pela má caligrafia ou pelos estragos causados pelo tempo.
A primeira parte dos documentos digitalizados é composta de 200 cartas sobre a Primeira Guerra Mundial trocadas entre Proust e Robert, seu irmão. A ideia é lançar o arquivo em novembro de 2018, data dos 100 anos do fim da guerra. “Não estávamos convencidos de que a ordem cronológica seria a forma mais interessante de começar”, disse ao site France 24 a bibliotecária Caroline Szylowicz, atualmente à frente do arquivo Proust na Universidade de Illinois.
O escritor não mantinha diário ou registros pessoais. Por isso, as muitas cartas escritas por ele acabaram se tornando o único registro de próprio punho das suas experiências. “Como Proust estava mais preocupado com as relações humanas do que qualquer outra questão prática, ele quase sempre sentia a necessidade de explicar de forma longa e profunda as mais ordinárias ações, como convidar alguém para jantar”, diz o texto de abertura do projeto.
Mas Proust não se limitou a falar sobre a Primeira Guerra Mundial ou sobre detalhes do dia a dia em suas cartas. Com interlocutores como Lucien Daudet e Georges de Lauris, o escritor debateu sobre o escândalo político conhecido como o Caso Dreyfus, discutiu o julgamento de Oscar Wilde e abordou a separação entre igreja e Estado na França – além de traçar comentários culturais sobre as composições de Richard Wagner, o balé russo, o movimento dadaísta e até a teoria da relatividade. Como os temas das cartas são diversos, o acervo deve disponibilizar também conteúdos que os contextualizem, como matérias jornalísticas, fotografias e textos da época.
A correspondência que integra o acervo já foi publicada por Philip Kolb, professor de francês da Universidade de Illinois e o maior responsável pelo arquivo de Proust da universidade. O primeiro a reunir correspondências do autor, porém, foi seu irmão, Robert, que publicou os documentos em seis volumes entre 1930 e 1936 sob o título Correspondance générale de Marcel Proust, Paris: Plon.
Philip Kolb, 40 anos mais tarde, foi além: juntou cerca de seis mil cartas recebidas e enviadas pelo filósofo em 21 livros lançados entre 1970 e 1993. Nunca satisfeito, o professor estimava que chegaria a descobrir 20 mil textos, mas acabou morrendo antes, em 1992. Desde então, centenas de novas cartas já foram identificadas e ainda que muitas tenham se perdido com o tempo, a busca por elas continua.