Uma política pós-ética
Lula e José de Alencar na posse do ex-presidente, em 2003 (Divulgação)
Muitos pontos poderiam ser considerados numa análise crítica dos anos da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva: um realinhamento do sistema partidário (com a bipolarização nacional entre PT e PSDB, os demais partidos representando satélites desse movimento), a ascensão aos estratos inferiores da classe média de um largo contingente de brasileiros que durante décadas viveram em condições de pobreza, a projeção inaudita do Brasil no cenário internacional (a partir do protagonismo do presidente e de ações pouco afeitas à nossa tradicional postura de perfil baixo), a retomada de níveis satisfatórios de crescimento econômico etc. Ater-me-ei aqui à significativa alternância dos grupos sociais que ganharam acesso ao centro do poder nacional e à guinada nos termos do debate político nacional.
A chegada do ex-líder sindical à Presidência da República, em 2002, foi o ápice, no Brasil, do longo processo de “circulação de elites”, segundo a concepção do economista e sociólogo italiano Vilfredo Pareto (1848-1923). No seu dizer, a circulação de elites é um lento fenômeno de transformação dos grupos superiores de uma sociedade, refletindo o conjunto de suas mudanças. Por esse processo, em vez de rupturas revolucionárias – que ocorreriam em decorrência da incapacidade das velhas elites de atualizar-se mediante a absorção dos elementos emergentes –, o que se verifica é a mescla entre os novos e os velhos setores dirigentes. Assim, pela absorção paulatina dos indivíduos mais notáveis (os líderes) das camadas sociais subal
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