Uma estranha linhagem
por Alcir Pécora
O que primeiro li do escritor e jornalista Eustáquio Gomes (Campo Alegre, MG, 1952) foi a sua bela dissertação sobre o modernismo de província (Os rapazes d´A onda e outros rapazes, Campinas, Editora da Unicamp/Pontes, 1992). Ali dá a conhecer, entre outros autores esquecidos dos anos 20, Apolônio Hilst, “o futurista de Jaú”, mítico pai de Hilda Hilst.
Por essa época, Eustáquio era assessor de imprensa da Unicamp, cargo que exerceu de 1982 até a aposentadoria em 2011. A Universidade lhe deve, entre outros bons serviços, a excelente biografia de seu fundador, Zeferino Vaz (O mandarim: História da infância da Unicamp, Campinas, Editora da Unicamp, 2006). No Correio Popular, jornal diário de Campinas, Eustáquio produziu perto de 800 crônicas, muito lidas na cidade.
Nada mais enganoso, porém, que imaginar Eustáquio, à imagem dos rapazes de sua tese, como escritor de província. Sua prosa fina, de longa duração, abrange gêneros muito diversos – conto, novela, romance, diário, crônica, memória, ensaio etc. Varia tudo, menos o corte elegante, rigoroso.
Os livros foram sendo construídos sem pressa, com regularidade sistemática – e cismática também. A qualidade parece alcançada sem força, por quem semeia confiado em que a semente é boa e a técnica melhor ainda, emulada sem servilismo do melhor viés machadiano: erudição, experiência madura, pensamento moral e cético, vasto domínio do idioma. A elocução é límpida e moderna, amistosa (mas sem adulação) com o leitor e dura consigo, o autor, quando a vaidade so
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