Uma escuta guarani em São Paulo, capital
(Ilustração: Reprodução/J. J. Audubon)
Desde a década passada, geólogos, antropólogos e outros especialistas debatem, com maior intensidade, a entrada da Terra em uma nova era geológica, o Antropoceno, marcada por instabilidades motivadas por ações antrópicas, que constituem a principal força entrópica na Terra. Em consonância com seus efeitos políticos, muitos desses especialistas buscam nomear também as desiguais responsabilidades sobre o colapso ambiental. Nesse contexto, encontramos perguntas variadas, como: que papel desempenharam no colapso ambiental o antropocentrismo, o capitalismo, o Estado, a metafísica moderna? As sociedades indígenas nas Terras Baixas Sul-americanas e no Brasil oferecem-nos um contraponto vivo ao Antropoceno em seus modos de vida, sua mitologia e seus rituais, em suas filosofias e suas ciências.
Esse conjunto de problemas permeou minha formação de antropólogo e diz muito da minha experiência de pesquisa em etnologia, nas aldeias guarani denominadas Krukutu e Brilho do Sol, localizadas nos arredores da represa Billings, entre os municípios de São Paulo e São Bernardo do Campo (SP). Em contexto de ampla presença dos jurua kuery (os “brancos”) e de presença igualmente marcante de trilhos, estradas, barragem e cavas de areia, com impacto ambiental expressivo, os xamãs guarani (xeramoĩ) dividiram comigo algumas lições de escuta ou da transformação dela – as quais divido agora com vocês.
QUANDO CHEGA A PRIMAVERA
Aprendi que, na passagem do inverno à primavera, as aves migratórias retornam de moradas celestes e iniciam a construção de
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