Um instante de filoginia
(Imagem: Reprodução/ Johann Moritz Rugendas)
Se estamos familiarizados com atitudes, práticas e interpretações misóginas, o amor às mulheres e à cultura feminina, expresso na palavra filoginia – do grego philos, amigo + gyne, mulher – precisa ser recorrentemente explicado. Não é de se estranhar. A exclusão das mulheres tem história. Já sua modesta e morosa inclusão na esfera pública tem como contrapartida a exigência de extrema obediência a rígidas normas definidas pelo poder masculino, pelo Estado e pela Igreja, como denunciam insistentemente os feminismos. Afinal, desde Tertuliano e Agostinho, nos séculos 2 e 3, Eva é responsabilizada pelo mal que resulta na queda não apenas do primeiro homem, mas de toda a humanidade, expulsa para sempre do Paraíso.
No Brasil, o peso do imaginário cristão aparece no atraso e no empobrecimento simbólicos das elites, de que fala o provocador O soldado antropofágico de Tales Ab’Sáber. Atraso no conhecimento do próprio país, de seus conflitos, de suas contradições extremas, das enormes dificuldades que se arrastam sem solução. Empobrecimento do mundo das “elites não pensantes”, que optaram por ignorar suas formas de opressão, de violência e de exclusão dos desfavorecidos, como se fosse possível. O custo é alto, como sabemos. Contudo, esse belíssimo estudo da história e da cultura brasileiras também abre outros espaços simbólicos para nos interpretarmos, para lermos nosso passado com chaves que não trancam definitivamente, mas que, ao contrário, dissolvem a ideia de destino histórico, questionam as linguagens segregativ
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »