O neoescravismo brasileiro

O neoescravismo brasileiro
(Imagem: Reprodução/ Johann Moritz Rugendas)
  Este artigo foi escrito em meio ao noticiário de mais uma chacina protagonizada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, dessa vez no Morro do Salgueiro, em São Gonçalo, em novembro de 2021. Pelo menos nove corpos foram encontrados e resgatados pelos próprios moradores da comunidade. Empilhados uns sobre os outros e jogados no mangue, os corpos estavam desfigurados e com sinais de tortura. Um morador, que preferiu não se identificar, relatou à imprensa que a chacina aconteceu por retaliação à morte de um sargento da Polícia Militar no dia anterior, durante uma troca de tiros com traficantes. Informou ainda que a maioria dos mortos não tinha relação com a criminalidade: “Eles tratam a gente com a morte”, finalizou. Não é necessário ver os corpos das vítimas para saber a cor deles, ou pelo menos a cor que todos esperam que tenham. No Brasil, o tratamento pela via da morte, como denuncia o morador de São Gonçalo, é dirigido a uma determinada paleta de cores de pele. A própria invenção do Brasil está alicerçada sobre pilhas e pilhas de corpos pretos objetificados, explorados, torturados e mortos. O soldado antropofágico: escravidão e não-pensamento no Brasil, de Tales Ab’Sáber, toca nessa ferida profunda e busca compreender o que fizemos e estamos fazendo dela. Em 2018, o campo progressista assistiu perplexo e atônito à ascensão de um governo de extrema-direita no Brasil, pelas mãos da democracia pela qual tanto lutamos. E Jair Bolsonaro foi eleito sem se preocupar em maquiar ou esconder sua predileção por discursos antid

Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »

TV Cult