Tríptico beneziano
O filósofo Benedito Nunes (Foto Luiz Braga)
Para Benedito Nunes
in memoriam
Março, 2011
1
domingo, na igreja de santo alexandre
das duas uma : ou
aquele sorriso
de olhos fechados
era uma fresta
na janela de um
tempo que não
pertence a este
lugar parado
um tempo
sem lugar
aqui
: ou
o plano era
não assustar
os mais delicados
e com aquele sorriso
aquático macio
de sempre
recebia os
convivas
pela vez derradeira
2
nosso abandono nasce desse
movimento
as páginas amareladas não são
amareladas
aprendi com ele os indícios
do viço
aquilo que trocam
frequentemente
por isto
as nadadeiras de todos os peixes
cada asa de todos os pássaros
as patas dos roedores todos
arrastam o tempo de um lugar
para o outro enquanto a palavra
paisagem inventa cenários
desolados
nosso abandono nasce desse
movimento
também o esquecimento
os ventos e as correntezas
3
quando fugir o lobo da memória
quando fugir o lobo da memória
cada lua uivará
por si
na luta contra
hipocampos
blindados lanças
granadas de silêncio
e a morte arrancada
de um suspiro
familiar
que torna ao peito
mais de oitenta anos
depois, o primeiro
Paulo Vieira é poeta paraense, doutor em literatura brasileira pela USP e professor da UFPa. Foi amigo de Benedito Nunes, que escreveu várias introduções para seus livros.
> Compre a versão digital do Dossiê “Benedito Nunes, o filósofo da poesi
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »