Trinca Brasil: um lembrete do país que amamos
O grupo Trinca Brasil no programa Sr. Brasil, da TV Cultura (Foto: Reprodução/Facebook Trinca Brasil)
Foi ouvindo o concerto de choro do grupo Trinca Brasil que me esqueci por alguns momentos deste triste pesadelo que estamos vivendo e mergulhei num Brasil iluminado, vibrante, brejeiro, sentimental, sublime, alegre. No Brasil que amamos e que nós defendemos, cada qual a seu modo, escrevendo, cantando, compondo, tocando, trabalhando, filmando.
Toninho Carrasqueira na flauta – que sopro divino é este? – e os maravilhosos violões de sete de Edmilson Capelupi e Guilherme Sparrapan. Que beleza! Que alegria ouvir! A casa fica em festa ao som da música deles.
Num momento em que aqueles que estão no poder veem a cultura e os artistas como inimigos- quem diria que isto iria acontecer?! Este retrocesso! – eis que a cultura brota com força, beleza, exuberância. O trabalho do Trinca Brasil surge neste contexto.
É tudo muito bom e belo, desde os músicos, a escolha do repertório, os arranjos. As músicas são de Radamés Gnatalli- Suíte Retratos; Villa-Lobos- Ária (Cantilena)(Primeira Parte das Bachianas Brasileiras n. 5); Guerra-Peixe – Desculpe, foi engano ; Álvaro Carrilho- Choro Torto; João Dias Carrasqueira- Crepuscular e Dia Feliz e Camargo Garnieri- Canção Sertaneja, com participação de Rolando Boldrin, falando versos de Catulo da Paixão Cearense e Dansa Negra. Os arranjos são deles. É um trabalho em que a barreira que separa música erudita da popular é completamente dissolvida, perde a razão de ser.
A beleza deste trabalho me fez lembrar do que disse Mário de Andrade no ensaio “Evolução social da música no Brasil”, no livro Aspectos da música brasileira: “a música popular cresce e se define com uma rapidez incrível, tornando-se violentamente a criação mais forte e a caracterização mais bela de nossa raça.” Trabalhos como este do Trinca Brasil nos ajudam a acreditar no que Mário disse um dia.