Teatro falado

Teatro falado
Fotos: Bob Sousa

 

Pertencentes à mesma geração de atores, Celso Frateschi e Denise Weinberg nunca contracenaram, mas no último dia 27 de junho dividiram o palco do Ágora Teatro para participar da primeira edição de Encontro com o Espectador, projeto que irá convidar mensalmente atores e diretores a conversarem com o público sobre os trabalhos que estejam fazendo. A iniciativa partiu dos jornalistas Valmir Santos e Beth Néspoli, editores do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que se inspiraram na Escuela de Espectadores de Buenos Aires, conduzida por Jorge Dubatti desde 2001.

Em conversa franca e espontânea, temperada com muita eloquência e bom-humor, Celso e Denise refletiram sobre a relação do teatro com a sociedade, compartilhando inquietudes artísticas e existenciais em relação aos monólogos O grande inquisidor e O testamento de Maria, em que atuam, respectivamente.

A atriz sublinhou a capacidade de o teatro gerar alteridade. “Só vou modificar os meus resultados se modificar o que penso originalmente. O teatro faz isso. Ele tem essa belíssima função, muito rechaçada hoje em dia – mas que tentamos resgatar arduamente –, de fazer a pessoa sentada à nossa frente sair, ao final, e se perguntar sobre essa nova visão de Maria. Um mulher que perdeu o filho de 33 anos, pregado numa cruz como um bode expiatório político”, afirma Denise Weinberg sobre a peça do irlandês Colm Tóibín, dirigida por Ron Daniels, seu primeiro espetáculo-solo em trinta anos de carreira, boa parte dela vinculada ao Grupo Tapa.

Celso Frateschi disse ter chegado a Dostoiévski por contraste, dessa vez encenando um dos mais famosos episódios de Os irmãos Karamázov. “Se você pensar no que ele propõe em termos de ideologia, de pensamento de mundo, como pessoa e não artista, isso tem pouco a ver com a gente. Mas a obra dele é profunda, possui uma integridade artística que nos interessa. Pegar aquilo que não vai provar o que já sabemos, esse é o ponto mais prazeroso e transgressor do fazer teatral”, declara, referindo-se à segunda peça da Trilogia do Subterrâneo, dirigida por Roberto Lage.

Fernando Poli foi uma das 25 pessoas que estiverem presentes ao encontro. Para o ator e coaching, que assistiu seis vezes a O testamento de Maria, a peça humaniza a figura da mãe de Jesus, tornando-a muito próxima de nós. “O autor mexe com um dogma tão arraigado sem escandalizar, e isso é fascinante. Diante dessa história milenar, é possível parar e exercer a dúvida”. Outro espectador relatou a experiência de um tio evangélico que, após assistir a O sonho de um homem ridículo, criou na igreja da qual é pastor um grupo de estudos sobre a obra de Dostoiévski.

Ao final das duas horas da conversa mediada por Beth Néspoli e Valmir Santos, atores e espectadores foram unânimes em reconhecer que encontros como esse são essenciais para a vida cultural do País. “Em vez de discutir só política, porque a gente está nessa vibe, é muito bom discutir arte. Porque ela é tão política quanto e talvez nos transforme de uma maneira que não seja somente pela via do panelaço”, arrematou Denise Weinberg.

Encontro com o Espectador

Onde: Ágora Teatro (Rua Rui Barbosa, 664)
Quando: Toda última segunda-feira do mês, às 19h30
Quanto: Grátis
Info: teatrojornal.com.br

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