Sonho translíngue

Sonho translíngue
Benjamin com amigos em Berlim, no Natal de 1931 (Foto: Walter Benjamin Archiv)
  Walter Benjamin escreveu essa carta diretamente em francês, embora a destinatária fosse a também berlinense Gretel Karplus, sua amiga íntima que se casara com o filósofo Theodor Adorno e vivia então nos Estados Unidos. O texto foi redigido no campo de trabalhos “voluntários” de Nevers, ao qual o autor havia sido encaminhado, junto com outros alemães que viviam na França no momento da declaração de guerra com a Alemanha de Hitler. Embora muitos prisioneiros, como ele, fossem judeus exilados e destituídos da nacionalidade alemã, eram todos suspeitos de colaboração com o inimigo – daí a necessidade de se corresponder com o exterior na língua do país, demonstrando fiabilidade. Datam desse período muitas outras cartas em francês, a maioria endereçada a amigos e conhecidos franceses influentes, aos quais Benjamin solicitava ajuda para ser libertado do campo. Não sem dificuldade, ele acabaria obtendo a liberação graças à intervenção de Adrienne Monnier, importante livreira parisiense e companheira da fotógrafa Gisèle Freund. Mas essa carta em particular quase não menciona as condições de vida no campo ou estratégias para sair dele. Ela contém sobretudo a narrativa de um sonho do autor numa das noites passadas “sobre a palha”, vaga alusão às péssimas condições de alojamento dos prisioneiros. Embora faça alusão a vivências pessoais e até íntimas, o breve relato se inscreve na perspectiva da filosofia da linguagem de Benjamin, produzindo instigantes efeitos de sentido que podemos chamar de “translíngues”. A p

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