Sofrimento

Sofrimento
Homem velho com a cabeça em suas mãos, de Vincent Van Gogh, 1890
  Nem sempre um sintoma faz sofrer seu próprio portador. Não se sofre apenas “de”, mas também “por”, “como” e, mesmo, “como se”. Às vezes são as cercanias familiares, amorosas ou tribais que sofrem, como que em procuração compulsória, no sintoma do próximo. Talvez isso seja próprio ao sofrimento, sua tendência a impor aos outros, por contágio e identificação, uma mesma gramática, uma mesma forma de sofrer, assim como os grupos, psicanalíticos ou não, tendem a uma mesma forma de gozar. Tal qual um tributo a ser pago com uma “tira de couro”, o sofrimento nos cobra, por assentimento ou reprodução, um reconhecimento de valor em seus termos. Por isso nem todo sofrimento é angústia transformada, retida ou vertida em ato. Nem todo sofrimento é um sintoma colocado no museu de nossa própria história de identificações. Assim, não se produz por princípio apenas sofredores, apassivados por vivências dolorosas consideradas êxtimas, como nos inscreve na condição de sofrentes, posição na qual todo ser se conjuga em seus desencontros e discordâncias com outrem. Por isso uma psicanálise marginal se pergunta se tudo o que há para escutar são sintomas e, sem eles ficaremos inertes à espera de que o paciente fale nossa própria língua. É próprio de nosso tempo transformar todo sofrimento em sintoma e todo sintoma em problema. Procurando bem, esteja o Rei vestido ou não, sempre se encontrará o sintoma, mas isso é suficiente? Às vezes o sofrimento vem com uma determinada ou indeterminada posição no mundo, o que não se re

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