Socratismo agostiniano
Classificar Soren Kierkegaard como pensador moderno é algo discutível. Comumente se afirma que ele estava à frente de seus contemporâneos modernos e que muito se diferia deles, tanto pelas polêmicas que travou com a filosofia e a religião quanto por suas reflexões sobre a interioridade e a existência. Porém, se uma definição meramente cronológica de filosofia moderna pode incluir o pensamento do século 19, então Kierkegaard inclui-se nessa categoria.
A ideia de contemporaneidade, contudo, não tem um sentido simplesmente cronológico no pensamento kierkegaardiano. Em seu livro Migalhas filosóficas, publicado em 1844 sob o pseudônimo Johannes Climacus, Kierkegaard propõe uma compreensão de contemporaneidade como o estado do sujeito que passa do não-ser ao ser, conhecendo a verdade e tornando-se contemporâneo dela. Neste sentido, o referencial da contemporaneidade não é mais a relação do sujeito com o tempo, mas com a verdade, independentemente da época em que o indivíduo viveu.
Esse é um ponto de partida possível para se pensar comparativamente as relações entre Kierkegaard e seus contemporâneos, e entre o filósofo de Copenhague e pensadores da Antiguidade. O dinamarquês considerava a religião de sua época, o cristianismo luterano oficial da igreja da Dinamarca, como profundamente diferente do cristianismo pregado pelos apóstolos nos primeiros séculos da era cristã. De maneira análoga, Kierkegaard percebia que a pretensão dos pensadores oitocentistas, de elaboração de sistemas filosóficos capazes de abarcar e compreender toda
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